quarta-feira, 16 de julho de 2014

«Porque é que, diz Aristóteles nos seus Problemas, não é propício ao acto sexual ter os pés frios?»


Av. Marechal Gomes da Costa, Lisboa. 2012.

Caída a máscara, afigurou-se de uma absoluta evidência ao Supermacho que, embora possuísse, desde há dois dias, Ellen, totalmente nua, jamais a vira antes, mesmo sem a máscara.
Jamais a teria visto, se ela não tivesse morrido. Os pródigos tornam-se geralmente avaros no preciso momento em que se apercebem de que o seu tesouro se acha delapidado.
O Supermacho não tornaria a ver Ellen, cuja forma regressaria, pelas contracções musculares que precedem a decomposição, àquilo que foi anterior à forma. Nunca se interrogara a si próprio sobre se a amara ou se ela seria bela.
A frase que dera origem a essa prodigiosa aventura representou-se ao seu espírito tal como, personagem voluntariamente boçal e estúpida, ele por capricho a havia proferido:
- O amor é um acto sem importância, uma vez que pode ser feito indefinidamente.
Indefinidamente...
Sim. Havia um fim.
 
Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Alfred Jarry.

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