Os poemas
são cidadelas para os
lábios
Mais longe as sentinelas
do espaço
e os degraus do oceano
no contorno das pálpebras
Na hora anterior
ao vidro das lágrimas
a mulher ocasionou o parto
das cidades
e as plantas
foram úteros reflexos
de água
gerando no lodo
o vício do ódio
submerso nas palavras
Maria Teresa Horta (n. 1937), in Cidadelas Submersas (1961).
Com uma primeira obra publicada em 1960, Espelho Inicial, Maria Teresa Horta
(n. 1937) começou por ser associada ao grupo Poesia 61, que se propunha
«importar de novo o reconhecimento duma hipótese poética que surgisse
preocupada com o poema enquanto objecto verbal, mas sem permitir a recuperação
desta hipótese pelas escolas formais então existentes» (Joaquim Manuel Magalhães).
No entanto, a poesia da autora de Tatuagem (1961) distanciava-se da dos demais
elementos do grupo, entre eles Gastão Cruz, Fiama Hasse Pais Brandão, Luiza
Neto Jorge e Casimiro de Brito, por nela ser evidente um erotismo desassombrado,
que viria a agudizar-se em livros subsequentes, marcado pela «veemência da sua
iconoclastia feminista» (A. J. Saraiva, Óscar Lopes). Ainda que sejam estas as
marcas mais reconhecidas da poesia de Maria Teresa Horta, não se pode excluir
da mesma a atenção social que livros tais como Cronista não é Recado (1967) ou Mulheres
de Abril (1977), já posterior à revolução dos cravos, quiseram sublinhar.
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