Estas situações poéticas são, sem dúvida, bastante intensificadoras de apelo sentimental porque, em última instância, ao contemplarem o presente das mudanças e o passado das permanências, instituem na linguagem dos versos um processo muito poderoso de captação: aquilo que desde os latinos ficou designado pelo motivo do Ubi sunt: a nomeação dos que desapareceram ou daquilo que se destruiu, a memoriante retomada de momentos maiores e exemplares. Num certo sentido, toda a vocação realista da escrita é uma manifestação ou uma preparação para o motivo do Ubi sunt. Que, ao enfatizar a transitoriedade da vida, a fragilidade e a relatividade da beleza, a degenerescência da própria época em relação a um qualquer passado mais glorioso ou como tal pretendido, não pode deixar de criar um tenso e intenso efeito de pathos. Assim funcionam estes momentos cimeiros de relações que são quaisquer poemas conseguidos sobre a ligação com um outro, que é sempre uma relação a morrer. E de tanto mais pathos quando se trata da relação de uma cultura (ainda que aparentemente sentida apenas por um indivíduo), com outra cultura. E em estado final.
Joaquim Manuel Magalhães sobre António Manuel Couto Viana, in Rima Pobre - poesia portuguesa de agora, Editorial Presença, Abril de 1999, p. 92.
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