quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

LINGUAGEM CIFRADA

Camarada Van Zeller, dois casos de linguagem cifrada agitam o país. Não é de agora, dir-me-á. Tem razão. Quem escuta conversa alheia corre o risco de deparar com fruta onde, em boa verdade, havia puta. É assim a língua nos meandros da máfia. Robalos à mesa serão sempre bom pitéu. Agora, vêm os especialistas das escutas ao camarada Paulo Portas esclarecer que onde se ouviu Canalis e Canals, dizia-se, afinal, canal. E onde se ouviu aquilo ter-se-á dito a Kiel, que é uma bela terra onde, de facto, existe um canal. Provavelmente é lá que vive o benfeitor Jacinto Leite Capelo Rego, depositante em tempos de somas avultadas nas contas do CDS. Já lá vão o quê? Dez anos?! Há hábitos que nunca se perdem, meu Deus. Toda a comédia aqui. Também o ex-primeiro-Ministro Sócrates tem sido vítima de deficiências auditivas, embora neste caso os esclarecimentos não sejam tão contundentes. Ora repare, camarada, como de uma linguagem decifrada passamos para uma linguagem repleta de cifras. Valham-nos os Turing do Ministério Público, sem os quais não poderíamos perceber patavina das conversas mantidas entre os génios do crime. Ficamos então a saber que quando Sócrates falava de fotocópias estava, na realidade dos procuradores, a referir-se a dinheiro. Também Paulo Portas, em tempos, teve relações de proximidade com o universo das fotocopiadoras, mas isso agora não interessa. Eram outros tempos e a criptoanálise ainda não tinha chegado à procuradoria. Toda a tragédia acolá. Já agora, e com base em estudos científicos das mais conceituadas universidades, quero aqui revelar a enormíssima probabilidade de as escutas a Sócrates e a Portas e a demais congéneres correrem o risco de serem todas elas inviáveis por os indivíduos escutados serem eles próprios cifras de si mesmos. Não sei se me fiz entender. Não tendo feito, deixem-me pelo menos deixar bem claro que se alguma vez eu vier a ser alvo de escutas sempre que me ouvirem dizer “chupa-mos” estou, na realidade, a querer dizer “chupem-mos”. É que só costumo falar com uma pessoa de cada vez ao telefone, desconhecendo se estarei a ser ouvido por várias. 

3 comentários:

Anónimo disse...

E com uma bela gargalhada termino uma manhã de leitura no seu blog. Já que não posso comprar o livro deixe-me ao menos agradecer: obrigado. Sofia

hmbf disse...

Obrigado eu pelo comentário, Sofia. Diga-me a que livro se refere. Escreva-me para universosdesfeitos@yahoo.com.br

Anónimo disse...

Peço desculpa, expliquei-me mal. Referia-me ao seu blog pois leio-o como se de um livro se tratasse.