Com o recuo do Blogger em matéria de nus (explicado
aqui), seria normal interromper esta série de trípticos. Afinal, outro motivo
não havia para despentear a linha editorial senão o uso do contraditório. Mas
agora tomei-lhe o gosto. Aguenta-te Maria.
O tríptico de hoje é, na realidade, um políptico.
Regresso aos temas bíblicos através d’O Retábulo do Cordeiro Místico – ou A
Adoração do Cordeiro -, magnum opus dos irmãos Van Eyck. Conta-se que «teve uma
história acidentada: quase destruído em 1566 pelos calvinistas, foi desmembrado
em 1816 (altura em que alguns painéis foram vendidos) e danificado por um
incêndio em 1822». Graças a Deus, nem tudo se transformou em cinza. Muito do prestígio
de Jan Van Eyck (1390-1441) deve-se a esta obra cujos painéis começaram a ser
pintados pelo irmão mais velho Hubrecht, embora deste não se fale tanto. Dois
nus sobressaem na fila superior. Do lado esquerdo, a figura de Adão. Do lado
direito, Eva. Pintados com mestria realista, são de um humanismo sem
precedentes na escola flamenga. Vistos de perto têm outra graça.
Repare-se como os olhos de Adão sobressaem num rosto onde
as rugas, as olheiras, a profusão capilar invocam uma humanidade desesperada. A
posição do pé direito, ligeiramente levantado, e do braço esquerdo, dobrado
sobre os abdominais na direcção do braço direito, sugerem um movimento na
direcção de Eva.
Na outra ponta da fila, Eva está parada e segura na mão o
fruto do pecado. É um fruto estranho de superfície engelhada, a qual contrasta
com as formas indúcteis dos seios, redondinhos e apetecíveis, e com o abdómen
exageradamente curvo. Estaria grávida de Adão? Impossível evitar a heresia: olhamos para estes dois e sentimos que somos nós o fruto do pecado. Se por nós morreu Cristo na cruz, também por nós estes dois se amaram, correram riscos, desrespeitaram, agiram. A penugem do ventre não
foi esquecida, ao contrário de outras representações onde pêlos, pilosidades e
cotões são banidos da história como se a gilete tivesse sido descoberta antes
do fogo. Onde se encontra o terceiro nu neste maravilhoso políptico é tarefa
que deixo ao leitor. Imagine que está a procurar o Wally num qualquer álbum de
Martin Handford. Mas não procure em demasia, caro leitor. Pode cansar a vista e
em vez de um Wally encontrar o José Cid com toda a lanugem no sítio e um disco de ouro no lugar das tradicionais folhas.
2 comentários:
Aguento, pois! dispensava era o Cid...mas cada Adão disfarça-se com a parra que mais lhe convém. Há delas que é melhor ficar como estão.
Continua, que eu gosto. :)
:-))) a para do Cid é d'Ouro :)))
ou será platina?
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