quarta-feira, 11 de março de 2015

UM POEMA DE JOHN BERRYMAN

 
A vida, amigos, é um tédio. Não devemos dizer isso.
Afinal, o céu faísca, o grande mar anseia,
nós próprios faiscamos e ansiamos,
e ainda por cima em pequeno a minha mãe dizia-me
(repetidamente) «Confessares-te entediado
significa que não tens
 
Recursos próprios.» Concluo agora não ter
recursos próprios, pois sinto um tédio de morte.
As pessoas entediam-me,
a literatura entedia-me, especialmente a grande literatura,
o Henry entedia-me, com as suas queixas & os seus tendões
tão anquilosados como os de Aquiles,
 
o qual ama as pessoas e a arte valorosa, o que me entedia.
E as plácidas colinas, & o gin dão-me seca
e de alguma forma um cão
levou-se a si & à sua cauda para bem longe
para as montanhas ou o mar ou o céu, deixando-
-me a menear.
 
John Berryman, in 77 Oníricas, tradução e prefácio de Daniel Jonas, Tinta-da-China, Dezembro de 2014, p. 39. The Poetry of John Berryman: aqui, aqui, aqui, aqui, aquiaqui. Isto hoje seria impossível. A terceira e a quinta partes são especialmente interessantes.

5 comentários:

manuel a. domingos disse...

é um poeta do catano e um poema do catano.

A VIDA NUMA GOA disse...

Poderias me passar o teu e-mail? Obrigado,

Evandro

hmbf disse...

universosdesfeitos@yahoo.com.br

Marina Tadeu disse...

Belíssima tradução. Quanto aos vídeos... não entendi patavina.

Marina Tadeu disse...

... a não ser o quinto