domingo, 11 de outubro de 2015

«NESTA PAZ DESCONFORME»


Nesta paz desconforme
de negação e aborrecimento
o heroísmo é desertar,
ter a coragem de um encolher de ombros.

Saber opor ao menos
ao silêncio cúmplice dos outros
a solidão radical
do emigrante interior.


João José Cochofel (n. 1919 - m. 1982), in 46.º Aniversário (Emigrante Clandestino). «(...) é, fundamentalmente, um lírico de amor cujos registos incluem as vicissitudes e a «dor da esperança» no negrume de muitos anos» (A. J. Saraiva, Óscar Lopes, in História da Literatura Portuguesa). «Foi um dos membros mais representativos do movimento neo-realista coimbrão, concretizado no Novo Cancioneiro, e tem cultivado a crítica literária em diversas revistas. (...) A sua poesia é das raras, de entre a tendência estética que foi a sua e dos seus amigos, que, consciente dos próprios limites, se não perdeu no polemismo fácil de uma extroversão de fachada. Lirismo intimista e delicado, atento todavia à situação peculiar que condiciona tràgicamente toda a expressão nacional, eis o que o distingue, com uma firmeza que a simplicidade e a segurança de uma expressão discreta quase pareciam diluir numa continuidade do Pessoa «ele mesmo», de Afonso Duarte e dos poetas menores da presença, e que é todavia muito pessoal, e de uma refinada sofisticação que a crítica literária habitualmente não associa com o neo-realismo» (Jorge de Sena, in Líricas Portuguesas).

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