...e, já agora, também dos porcos.
Quiseram os anjinhos que por estes dias a velha Jocel me
traísse, privando-me de assistir aos interessantíssimos debates que por certo farão as delícias de milhões de telespectadores. Prevejo uma afluência inusitada às
urnas nas próximas eleições. Assim sendo, tudo o que me chega do mundo chega
através das redes sociais. E nas redes sociais o assunto do momento é bem mais
premente do que os debates entre a Marisa e o Marcelo, a Belém e o Tino de Rans,
etc. O assunto do momento é um anúncio que chocou os agentes de uma actriz
pornográfica portuguesa e, presumo, a própria actriz. A modos que um tasco qualquer
publicou na sua página de Facebook uma imagem de um naco de carne com a seguinte
legenda: “Podia perfeitamente ser um pedaço da Érica Fontes… Mas é de uma outra
vaca.” Há anúncios estúpidos. Este, contra o qual ninguém se indignou, é um deles. Este outro, por razões talvez mais subtis, também não mereceu manifestos de indignação. Enfim, chamar vaca a uma actriz pornográfica é que não pode ser. Está mal. Quero aqui fazer a defesa das vacas, apelando aos leitores que respeitem
a minha costeleta hindu. De facto, a Érica, a quem já aludi num poema publicado
e em livro, está muito distante de ser uma vaca. As vacas são sagradas, a Érica
é uma simples actriz pornográfica. E se o naco de carne exibido pelo tasco é bom para a
grelha, a Érica é boa em qualquer suporte. Já vi vários filmes da respeitável
actriz. Benza-a Deus. Já a vi praticar sexo anal com mastodônticos membros
masculinos, via-a lamber e ser lambida, vi-a ser penetrada de múltiplas maneiras
e em mais posições do que o Kama Sutra poderia alguma vez sintetizar. Via-a beber sémen com uma sensualidade que escapa a toda e qualquer vaca. A Érica é mesmo muito boa naquilo que faz, merece o meu respeito e todo o sucesso que tem. A Érica tem
queda para a coisa, é uma actriz pornográfica à maneira. Não faz sexo, que isso
é o que eu faço com a minha senhora. Fode, fode como uma… Talvez deva conter-me, não vão também acusar-me de sexismo por dizer que a Érica fode
e faz de ser profissão ser filmada a foder. O que não percebo, sendo tão digna
de respeito a sua pessoa, é por que razão não lhe podemos chamar vaca quando
podemos, só a título de exemplo, chamar cabrão a um escritor. Ou carneiro, ou
burro, ou cão, ou cobra, ou outro bicho qualquer. Pois muito bem, a Érica
Fontes tem direito ao seu bom nome, não pode ser comparada com uma vaca. Nem em
contexto jocoso. Miguel Relvas pode ser chamado de burro, e Cavaco de palhaço, em contextos que nada tiveram de humorísticos. As actrizes pornográficas têm bom nome, os maus políticos não. Ficamos também subitamente informados de que, afinal, existem limites para o
humor, seja ele de bom ou de mau gosto. Se calhar, não devíamos enfiar coisas no rabo de Maomé. Numa caricatura, salvo seja. Se calhar, é de mau tom fazer piadas com Maomé e com... actrizes pornográficas. Boas ou más, não me interessa. Piadas. Há tempos, um senhor que se indignou
com a exibição de um quadro de Courbet na capa de um livro em exposição numa feira
de Braga foi alvo de chacota e de indignação. Ainda acabam todos como ele, os
que agora se indignam com os tasqueiros que não deviam comparar a santa Érica
com o mais sagrado dos animais. Resta saber se alguma vez assistiram a uma
performance da actriz ofendida e se, assistindo, nunca terão desabafado com a
baba a escorre-lhes do canto da boca: ganda vaca! Pela parte que me toca, Deus dê saúde à Érica e bons petiscos à vaca.
3 comentários:
Aqui não estamos absolutamente nada de acordo, Henrique.
A senhora até pode foder como uma que tal. A profissão em que ela é especializadíssima pode ser, ou se calhar não é mesmo, de todo, edificante. Tudo bem.
Mas não é motivo para o dono de um tasco seja ele qual for - o Zé da esquina, o Belmiro de Azevedo ou o Príncipe Charles - humilhar a dita senhora (que até fode como uma vaca ou uma burra ou uma cadela - por acaso não sei nada dos hábitos de perfuração de nenhuma dessas fêmeas), usando o termo "vaca" com tal conotação, armadíssimos de superioridade moral.
São os mesmos que se referem nestes termos a esta ou àquela por usar uma roupa assim ou assado e trocar de namorado como quem troca de camisa.
E mais: os políticos de que falas fodem o povo de uma maneira muito mais porca (porque em muitos casos mata) do que a dita senhora (a qual creio por muito que as suas penetrações e apetites choquem nunca matou ninguém que se saiba). E já agora a religião (pronto, não digo Deus para não ofender as pessoas mais susceptíveis, embora pudesse fazê-lo)fode e mata a humanidade muito mais do que qualquer político sozinho (os padres também são políticos). Por isso não me importa que a insultem.
Para mim não está em causa a profissão (tão edificante como outra qualquer), nem juízos de valor sobre os autores da piada. Para mim é apenas uma piada. De mau gosto? Sim. Estúpida? Sim. Mas uma piada. Vamos a um exemplo ainda mais radical:
http://xilre.blogspot.pt/2016/01/eu-hoje-nao-sou-charlie.html
É humor? Tem piada? É legítimo. Eu acho que sim. No caso do tasco, obviamente, com uma intenção publicitária que lhes correu mal. Enfim, gosto das putas que cantam sem preconceitos nem complexos
sou puta sim vou vivendo do meu jeito,
prostituta atacante vou driblando o preconceito
(https://www.letras.mus.br/nega-gizza-musicas/96629/)
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