UMA OPINIÃO SOBRE ANGOLA: as pessoas deviam poder ler à
vontade, seja qual for o livro. Nem que seja, vá lá, as memórias da prisão de
Isaltino Morais. Num país onde ainda é tão elevada a taxa de analfabetismo, em
vez de terem sido condenados os jovens activistas angolanos deviam ter sido
condecorados. Só ficaria bem ao regime. Na sequência da sentença, as bancadas
parlamentares do PS e do BE acharam por bem condenar em Portugal a decisão de
um tribunal angolano. Tema melindroso, sobretudo estando em causa uma decisão
judicial num país independente com eleições livres. É o que se diz. O PS
sugeriu votos para que os princípios elementares da democracia e dos estados de
direito não sejam atentados em Angola. O BE foi mais longe: condenou a punição,
apelou à libertação dos activistas. O BE quis meter
o bedelho numa decisão de um tribunal angolano, e isso é feio. O PS quis fazer
boa figura perante a opinião pública, e isso é muito comum no PS. O PCP, o PSD
e o CDS rejeitaram ambas as iniciativas, dando origem a uma nova geringonça no
parlamento português. De sublinhar que o PEV se demarcou da posição do seu
aliado de coligação, o PCP, votando a favor das iniciativas bloquista e
socialista. Fez bem. Ainda que todos os argumentos sejam inteligíveis, excepto
os de um deputado do PSD cujo nome não recordo mas tem cara de parvo, agradeço
ao PEV ter-me permitido respirar fundo. Apesar do oportunismo das iniciativas,
que em nada favorece a luta daqueles a quem mais compete fazer pela democracia
em Angola, ou seja, os angolanos, há um cidadão luso-angolano entre os condenados.
Por si só, isto obrigaria a um voto qualquer português condenando a situação de
repressão a que esse cidadão e os seus camaradas de tertúlia estão a ser
sujeitos em Angola. Esta é a condição, sob pena de assim não sendo termos que
apresentar todos os dias votos de condenação pela repressão exercida nos quatro
cantos do mundo.
UMA OPINIÃO SOBRE O PANAMÁ: o Panamá é um país simpático.
E a Islândia também. Até há momentos, a Islândia era um exemplo de hombridade
no combate à corrupção de políticos e banqueiros. Agora já não sei se ainda
será. Salvem-nos. O Rui Tavares vem dizer que nada ficará como dantes. Temos
dúvidas, temos sempre dúvidas. Afinal o que pode mudar? A vergonha dos sem
vergonha é vergonha nenhuma, pelo que andar a esconder dinheiro em paraísos
fiscais é quase tão relevante como o Terceiro segredo de Fátima. Na melhor das
hipóteses, teremos muita gente a dizer: mas isto é alguma novidade? Eu não
sabia já que estes gajos são todos corruptos e quem se lixa é sempre o mexilhão?
Na pior das hipóteses, os papéis do Panamá fortalecerão o discurso dos
oportunistas de serviço, aqueles que estão sempre contra o regime até serem
regime. Isto pode ser muito entusiasmante. Se dizíamos da situação brasileira ser
uma espécie de Portugal à escala do Brasil, iremos agora dizer ser a situação
do Mundo uma espécie de Brasil à escala mundial? Enfim, são demasiados
problemas para uma pobre cabeça como a minha. O que sei é simples: amanhã é dia
de trabalho, hoje é dia de descanso. Vou ler poemas.
2 comentários:
Sinceramente quando li a notícia fiquei estupefacta com o facto de ser notícia. Parece que ninguém sabia! A próxima surpresa vai ser descobrir que a Suiça vive à custa do dinheiro sujo do mundo, aliás vão ser precisas várias fugas de informação, alguns anos de investigação jornalística e o espanto dos comentadores da TV. Sofia
Pois, também foi o que me ocorreu.
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