A notícia pode passar ao lado, mas merece ser citada:
ultranacionalista francês foi detido na Ucrânia com um autêntico arsenal de
guerra. França, essa república multicultural onde a Frente Nacional de Marine
Le Pen soma e segue. Já na Áustria, a extrema-direita de Norbert Hofer, líder
de um partido com o insidioso nome de Partido da Liberdade, esteve a uma unha de
ganhar as presidenciais. Fala-se em “sentimento geral contra o establishment”.
Onde é que já ouvimos isto? Ao lado da Áustria, mais propriamente na Hungria, o
primeiro-ministro Viktor Orbán, líder do Fidesz – União Cívica Húngara,
continua a erguer os seus muros contra os migrantes e refugiados, argumentando
que, e passo a citar, “tudo indica que a esmagadora maioria destes migrantes
votará nos partidos de esquerda assim que se tornarem cidadãos”. Comentários
para quê? É um líder da direita austríaca. Na Polónia afina-se pelo mesmo
diapasão. E vai-se mais longe. Os analistas referem uma deriva autoritária, com tentativas de enfraquecimento do Tribunal Constitucional e a adopção de leis que
limitem severamente a liberdade de imprensa. Só estou a citar. Mas transcrevo:
«Da sua ideologia nacional católica faz parte a ideia de que a transição
pactuada de 1989 foi uma fraude que permitiu aos comunistas manterem o poder, e
que deve haver uma refundação constitucional, a IV República. O PiS contesta,
pois, a legitimidade das instituições democráticas estabelecidas em 1989 e
renegociadas na Constituição de 1997. Do seu programa de 2005 fazia parte um
novo projecto de Constituição que começava com uma invocação a Deus como
legislador supremo, uma prática constitucional abandonada no século XIX.» Os sublinhados são meus. Jaroslaw
Kaszynski, líder deste movimento autoritário católico, está preocupado com os
jovens vegetarianos e ciclistas que nada têm que ver com a cultura polaca. Não
estou a brincar. Isto é real. Enfim, podíamos ainda mencionar a popularidade
crescente da Aurora Dourada na Grécia, do Partido dos Finlandeses na Finlândia,
a duplicação de eurodeputados conseguida pelo Partido do Povo Dinamarquês, a
afirmação islamofóbica defendida pelo Partido da Liberdade de Geert Wilders, na
Holanda, os declarados neo-nazis do Movimento por Uma Hungria Melhor, o
discurso racista da Liga Norte, em Itália, com afirmações do tipo “África não
tem produzido grandes génios, como se pode ver na enciclopédia do Rato Mickey”,
a radicalização do discurso contra os imigrantes em Inglaterra… É esta a Europa
produzida por “Gollum” Schäuble, cérebro de uma putativa União que perante tal cenário
só manifesta preocupações com consensos à esquerda, políticas sociais e
solidárias. A grande bandeira da Europa no séc. XXI é pois a do segregacionismo,
com seus ligeiros apartheids a abrirem caminhos para uma História que se
repete. Já não se trata de imprudência, é mesmo burrice. Por cá, alguns também
vão fazendo os seus fretes. Basta seguir os truques da imprensa portuguesa para
perceber a discriminação, embora ela seja mais estupidamente tendenciosa do que
perspicaz. Ainda há dias, certo pasquim queria dar a entender aos seus leitores,
com o título que passo a reproduzir, que a esquerda é insensível aos idosos:
Esquerda chumba lei que criminaliza abandono de idosos. Se outrora
comiam criancinhas ao pequeno-almoço, sobra agora aos comunistas carne de idoso ao jantar. Alguns
caíram, apanhados pela parangona sem mais informação. E logo se puseram a
declamar coisas do género: cães valem mais do que idosos para a esquerda
portuguesa. Se soubessem o que foi chumbado talvez formassem outra imagem do
problema. Desde logo porque o abandono de idosos já é crime, o que se chumbou
foi a criminalização do abandono de idosos em hospitais. Não consta que por lá
se abandonem cães. Mas por que motivo se abandonam idosos nos hospitais? E por que não
deve isso ser crime? Porque em muitos casos esse abandono é consequência da
total carência de meios materiais que garantam um acompanhamento digno das
pessoas idosas. Ora, não seria muito mais justo votar-se uma lei que garantisse
apoio social a famílias carenciadas no sentido de evitar tais situações? Pois,
façam a pergunta ao “Gollum” Schäuble. Ele é que percebe de políticas sociais. E de europas solidárias.
1 comentário:
Concordo, que tal como em outros assuntos, em Portugal infelizmente opta-se por penalizar ou tomar acções estatais sem sentido sobre a família em vez de a ajudar procurando a ou as razões de fundo para tal ou tais comportamentos. Mas, neste caso dos idosos em particular, tal apoio consistiria em quê exatamente?
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