Data de 2005 a nossa primeira relação de proximidade com
esta horta. Dela colhemos abóboras, tomates, curgete, couves, pepinos, alface,
beringela, cebolas, batatas, louro, melancia, meloa… É impagável o que nos deu
em duas semanas de férias ao longo de onze anos, mais ou menos cinco meses e
meio de vida ali passados. De ano para ano, as novidades foram sucedendo. Este ano
descobri por lá cana-de-açúcar, graças a amigos brasileiros que me ensinaram
como há 30 anos se deliciavam no Brasil a mascar cana. Mas há uma espécie
diferente de alimento aqui colhido, alimentou os sentidos sem que por ele
alguém tivesse que fazer o que quer que fosse. Talvez seja semeado e cuidado
como qualquer outro hortofrutícola, mas o trabalho que dá a tratar não é da mesma ordem, não carece senão de suores frios a escorrerem pelas paredes dessa coisa
a que chamam alma. O restolho dos canaviais, o vento a circular por entre
folhas, as sinfonias de grilos e de cigarras, visitas ocasionais de animais
fantásticos para quem do campo guarde já só raízes. Vou sentir saudades desta
pequena horta, lugar de encontro entre realidades distintas, ponte que aproxima
margens de outro modo difíceis de aproximar, muito mais ignorantes de cada uma
delas e, por consequência, igualmente de si próprias. Centímetros de terra cujo
valor é indeterminável, por mais contas que se façam.
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