quarta-feira, 17 de agosto de 2016

HORTA


Data de 2005 a nossa primeira relação de proximidade com esta horta. Dela colhemos abóboras, tomates, curgete, couves, pepinos, alface, beringela, cebolas, batatas, louro, melancia, meloa… É impagável o que nos deu em duas semanas de férias ao longo de onze anos, mais ou menos cinco meses e meio de vida ali passados. De ano para ano, as novidades foram sucedendo. Este ano descobri por lá cana-de-açúcar, graças a amigos brasileiros que me ensinaram como há 30 anos se deliciavam no Brasil a mascar cana. Mas há uma espécie diferente de alimento aqui colhido, alimentou os sentidos sem que por ele alguém tivesse que fazer o que quer que fosse. Talvez seja semeado e cuidado como qualquer outro hortofrutícola, mas o trabalho que dá a tratar não é da mesma ordem, não carece senão de suores frios a escorrerem pelas paredes dessa coisa a que chamam alma. O restolho dos canaviais, o vento a circular por entre folhas, as sinfonias de grilos e de cigarras, visitas ocasionais de animais fantásticos para quem do campo guarde já só raízes. Vou sentir saudades desta pequena horta, lugar de encontro entre realidades distintas, ponte que aproxima margens de outro modo difíceis de aproximar, muito mais ignorantes de cada uma delas e, por consequência, igualmente de si próprias. Centímetros de terra cujo valor é indeterminável, por mais contas que se façam. 

Sem comentários: