Uns chamam-lhe concha, outros chamam-lhe anfiteatro. Fica na
Praia da Carreagem (há quem escreva Carriagem), no Rogil. Chegava-se lá descendo um carreiro desenhado por
pescadores. Entretanto, por cima do carreiro construíram umas escadas de madeira. Passou a ser procurada por mais banhistas do que por pescadores. Tem
alguns segredos que não vou desvendar, sobretudo para quem pretenda mergulhar,
nadar, apanhar sol. Prefiro guardar os segredos. Em 2008, salvo erro, foi neste ambiente que acabei de ler Moby Dick, enquanto o Luís tentava pescar robalos e fanecas.
Deitado sobre cascalho xistoso, com o olhar dividido entre a encosta e o
horizonte marítimo, enquanto o sol nascia deslocando a sombra na direcção da
vila. A casinha de madeira ainda persiste, assim como o fio de água doce onde
lavávamos rosto e pés e mãos. O que já não existe é a inocência do primeiro
olhar, o silêncio, o cheiro natural da vegetação a misturar-se com a maresia. Agora
intrometem-se as fragrâncias dos protectores solares, o estalido das bolas nas
raquetes, crianças impacientes, sotaques estrangeiros aparentemente
desorientados. Não me apetece voltar a ser simpático com as minhas frustrações,
penso-as como quem olha estas rochas, de ano para ano ali paradas sem que nada
possa ser feito contra elas, a não ser acrescentar-lhes ruídos, disfarces, a não
ser soltá-las para sempre na direcção de um mundo silencioso. Submersas, é como
se não existissem. Mesmo que continuem a existir. Mas não as vemos. Não as
vendo, é menos provável que as sintamos. Afogados.
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