segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

CONTA PESSOAS

Grande parte das lojas de grandes empresas têm instalado à entrada um contador de pessoas. A intenção é contar as pessoas que entram numa loja, cruzar o número de entradas com os talões de venda emitidos, tentar perceber qual a percentagem de clientes que de facto compram. Depois há as segundas intenções, que não me cabe discutir aqui. Mas sempre achei alguma piada à subjectividade dos números. Repare-se que pode entrar uma família de 5 pessoas para comprar apenas um artigo, pode entrar uma pessoa que não compra porque o artigo não estava disponível, mas até encomenda, podem entrar e sair várias pessoas diversas vezes enquanto falam ao telemóvel e andam a passear o tédio sem qualquer intenção de comprar. Lembrei-me destes conta pessoas a propósito das imagens sobejamente divulgadas sobre «as multidões que acompanharam as tomadas de posse de Barack Obama (2009) e Donald Trump (2017)». Estas comparações nada dizem, apenas insistem em desviar-se do fundamental: perceber as razões que fundamentam a eleição de um escroque.  Tal como não foi correcto comparar as multidões que acompanharam os funerais de Cunhal e Soares, também não é correcto fazer este tipo de comparação. Menos demagógico seria comparar as multidões que acompanharam as tomadas de posse de Bush e Trump. Enfim, sempre se reduzia a margem de erro do disparate. 

2 comentários:

Anónimo disse...

Felicito o distinto Autor pela aguda pertinência da sua publicação e confesso, com surpresa – pueril surpresa, forçado sou a admiti-lo – o meu inocente desconhecimento de tais contagens que, a bem ver das coisas, não se afiguram ao meu espírito como justificadas – outros mais informados dos labirínticos meandros da Lei dirão se legítimas. Tenho pois de admitir que não entrarei mais em nenhum estabelecimento comercial guiado pelo anterior e caduco pressuposto da inocência comunicativa do emissor e do receptor que estruturam a reciprocidade comercial. «Estou a ser contado», pensarei, sempre que transpuser as barras detectoras hoje colocadas – sem pudor, «hélas!», tenho que o dizer – no umbral convidativo de todo e qualquer estabelecimento comercial com aceitável dimensão. E fico a pensar, caro Autor, naquelas ocasiões em que, como refere, as pessoas entram e saem das superfícies comerciais as vezes que lhes apetece sem adquirirem qualquer produto. Isoladamente ou em grandes magotes, bem entendido. Compreendo agora, enfim, e conceda-me o ilustre Autor a permissão para o referir, aquela ocasião em que, acompanhado pela poetisa e cantora lírica Marcolina Maria, pelo maestro Rocha Castor, pelo pianista Paiva Cacete e pelo eminente Catatau Vincennes, este entrava e saía, obsessivamente, um pé dentro outro fora, do espaço comercial onde nos tínhamos dirigido para constatarmos as novidades editoriais e, como é natural entre as grandes cabeças, nos agredirmos verbalmente no que concerne às mais diversas considerações acerca dos autores alvejados com as possibilidades dos prelos. Pensámos todos, «O Catatau pirou», quando não «É oficial: rebentaram os fusíveis ao Catatau, o País não está preparado para isto». Insistimos, contritos, que talvez se justificasse pedir uma água, um café, um uísque, uma substância (se se desse o caso de encontrarmos algum voluntarioso jovem), mas Catatau Vincennes a todos replicava, «São contas minhas, são contas minhas!» Compreendo agora. Um visionário, o Catatau Vincennes, afinal: ele sabia e estava a «minar o sistema». E continua, porque ainda há poucos dias me confidenciava o título do seu próximo livro, «O Devir Fenomenológico do Algoritmo ou Prometo Acertar». É «a subjectividade dos números», como diz o Autor, e muito bem. Eu, por mim, estou esclarecido. Queira o ilustre Autor aceitar os meus sinceros protestos de admiração, pois que sigo com o maior interesse as suas publicações sempre pertinentes e esclarecedoras. Sou, Júlio Bernardo o Velho.

hmbf disse...

Ansioso por ver chegar tais novidades.