1. Há pessoas que acham que OBAMA é diferente.
Eu acho que ele vai tentar provar que é igual.
2. OBAMA não é branco nem preto nem sequer bronzeado; é um bocado disto tudo,
em doses convenientes e perfeitamente assimiláveis pelo discurso dominante,
produzido pela vontade de acumulação. Esta “vontade” é uma vontade natural e
também fabricada. A natureza favorece em larga escala situações de acumulação
de energia. O pavão mais forte tem energia suficiente para manter o seu
metabolismo a funcionar; e dispõe também de um excesso de energia que utiliza
para fabricar penas mais capazes (mais coloridas, mais reveladoras da conta
energética) de impressionar as fêmeas e também os outros machos. O domínio é
possível graças à acumulação de energia. A acumulação é um fenómeno natural e
também uma construção social. O comunismo falhou historicamente porque não conseguiu
a harmonia entre a natureza e a construção social: quis subordinar a natureza à
construção social, esquecendo-se de, ou não conseguindo, averiguar as formas de
concretizar uma combinação. O fascismo falhou por ser “demasiado natural” – o
pessoal sempre gostou de demonstrações de força; até o pau (quem segura o pau
defende a sua “naturalidade”) lhe desabar no costado.
3. A eficácia do texto dominante está na capacidade de assimilar
“contra”-textos: homens de pigmentação excepcional, contexto histórico-cultural,
traumatismos, pequenas maravilhas televisionáveis. OBAMA é fofinho.
4. Mais que a minoria, ou várias minorias, ou mesmo a imensa minoria, OBAMA
representa a incapacidade de prescindirmos da vontade de agradar a quem nos
fabrica o sonho que continuamos a consumir, e que em raros momentos
vislumbramos como não sendo exactamente o nosso.
Rui Costa (12/11/2008, aqui)
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