segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

OBAMA


1. Há pessoas que acham que OBAMA é diferente.

Eu acho que ele vai tentar provar que é igual.

2. OBAMA não é branco nem preto nem sequer bronzeado; é um bocado disto tudo, em doses convenientes e perfeitamente assimiláveis pelo discurso dominante, produzido pela vontade de acumulação. Esta “vontade” é uma vontade natural e também fabricada. A natureza favorece em larga escala situações de acumulação de energia. O pavão mais forte tem energia suficiente para manter o seu metabolismo a funcionar; e dispõe também de um excesso de energia que utiliza para fabricar penas mais capazes (mais coloridas, mais reveladoras da conta energética) de impressionar as fêmeas e também os outros machos. O domínio é possível graças à acumulação de energia. A acumulação é um fenómeno natural e também uma construção social. O comunismo falhou historicamente porque não conseguiu a harmonia entre a natureza e a construção social: quis subordinar a natureza à construção social, esquecendo-se de, ou não conseguindo, averiguar as formas de concretizar uma combinação. O fascismo falhou por ser “demasiado natural” – o pessoal sempre gostou de demonstrações de força; até o pau (quem segura o pau defende a sua “naturalidade”) lhe desabar no costado.

3. A eficácia do texto dominante está na capacidade de assimilar “contra”-textos: homens de pigmentação excepcional, contexto histórico-cultural, traumatismos, pequenas maravilhas televisionáveis. OBAMA é fofinho.

4. Mais que a minoria, ou várias minorias, ou mesmo a imensa minoria, OBAMA representa a incapacidade de prescindirmos da vontade de agradar a quem nos fabrica o sonho que continuamos a consumir, e que em raros momentos vislumbramos como não sendo exactamente o nosso.


Rui Costa (12/11/2008, aqui)

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