quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

THE CHEYENNE SOCIAL CLUB (1970)


Gene Kelly (n. 1912 – m. 1996), carismático actor de Singin’ in the Rain/Serenata à Chuva (1952), também realizou filmes, o último dos quais um western. The Cheyenne Social Club/Um Clube só para Cavalheiros (1970) nunca granjeou aplausos, apesar de um elenco com James Stewart e Henry Fonda nos papéis principais. Cowboys de corpo e alma, afastam-se do gado bovino quando um deles recebe de herança um negócio na cidade. Sucede que o negócio é um bordel. Perdão, uma casa de passe. A mais fina e conceituada da região. Tanto que para alguns deve o edifício ser elevado a monumento nacional.
Em 1970, James Stewart andava pelos 60 anos. Henry Fonda idem. A energia não podia ser a mesma, mas a escolha para os papéis revelou-se a coisa mais acertada neste filme. Depois de terem trabalhado juntos em Firecreek/Hora da Fúria (1967), Stewart e Fonda voltam a encontrar-se num registo  mais ligeiro e vulgar. Seria incorrecto asseverar que estão como peixe na água, mas podem bem ser dois escorpiões estranhamente misericordiosos às cavalitas de um sapo.
Estamos na presença de dois burros velhos, pelo que não é inteligente esperar que tomem andadura. Gerir uma casa de meninas não é negócio para um velho cowboy, nem em idade de reforma. Mas a decisão de fechar revela-se igualmente desacertada, dadas as necessidades e privações das jovens desamparadas que ali haviam encontrado o conforto de um lar. Mais grave: a reacção da população masculina de Cheyenne, quando confrontada com a possibilidade de fecho do seu mais estimado monumento, equivale à reacção das populações quando perdem o mais importante dos serviços públicos da sua terra.
O protesto está instalado, restando a John O’Hanlan e ao seu fiel companheiro Harley Sullivan o caminho da desgraça. Um violento ataque sobre Jenny, a líder das meninas, leva o herdeiro do bordel a mudar de postura. Subitamente elas tornam-se suas protegidas e ele assume sem hesitar o papel de protector. O plot presta-se a vários embaraços e os diálogos revelam uma ligeireza que garante sorrisos do princípio ao fim, sendo certo que Gene Kelly nunca consegue fazer do filme a comédia que porventura almejava.
Numa das sequências finais, um tiroteio previsível parece evocar ironicamente os acontecimentos de O.K. Corral. Só que o corral foi substituído por um bordel e dentro dele estão os bons, que por acaso são velhos cowboys que mal sabem pegar numa arma de fogo. E as meninas, claro. Tudo isto tem o seu quê de hilariante, mas acaba por ser filmado com escusada ênfase dramática. Nem carne, nem peixe, salvando-se a situação do completo desastre por nela estarem dois exemplares intervenientes: Henry Fonda e James Stewart.
Não obstante, algo mais justifica uma passagem de olhos por este western comedy (off-color, li algures). Há uma moral nisto tudo que sugere uma leitura alternativa da fábula do sapo e do escorpião. Não se muda a natureza a um escorpião, pelo que não vale a pena julgar que para o sapo que o carregue às costas outro destino pode haver que não seja a morte. Neste caso, a natureza dos dois cowboys por momentos deslocados do seu destino também se revela imutável. Sucede que o bordel não é uma casa de sapos, mas tem por lá umas princesas capazes de demover os escorpiões das suas intenções mais fatalistas. Como o fazem… só elas sabem. 

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