Gene Kelly (n. 1912 – m. 1996), carismático actor de
Singin’ in the Rain/Serenata à Chuva (1952), também realizou filmes, o último
dos quais um western. The Cheyenne Social Club/Um Clube só para Cavalheiros
(1970) nunca granjeou aplausos, apesar de um elenco com James Stewart e Henry Fonda
nos papéis principais. Cowboys de corpo e alma, afastam-se do gado bovino
quando um deles recebe de herança um negócio na cidade. Sucede que o negócio é
um bordel. Perdão, uma casa de passe. A mais fina e conceituada da região.
Tanto que para alguns deve o edifício ser elevado a monumento nacional.
Em 1970, James Stewart andava pelos 60 anos. Henry Fonda
idem. A energia não podia ser a mesma, mas a escolha para os papéis revelou-se
a coisa mais acertada neste filme. Depois de terem trabalhado juntos em
Firecreek/Hora da Fúria (1967), Stewart e Fonda voltam a encontrar-se num
registo mais ligeiro e vulgar. Seria incorrecto asseverar que estão como
peixe na água, mas podem bem ser dois escorpiões estranhamente misericordiosos às
cavalitas de um sapo.
Estamos na presença de dois burros velhos, pelo que não é
inteligente esperar que tomem andadura. Gerir uma casa de meninas não é negócio
para um velho cowboy, nem em idade de reforma. Mas a decisão de fechar
revela-se igualmente desacertada, dadas as necessidades e privações das jovens
desamparadas que ali haviam encontrado o conforto de um lar. Mais grave: a reacção
da população masculina de Cheyenne, quando confrontada com a possibilidade de
fecho do seu mais estimado monumento, equivale à reacção das populações quando
perdem o mais importante dos serviços públicos da sua terra.
O protesto está instalado, restando a John O’Hanlan e ao
seu fiel companheiro Harley Sullivan o caminho da desgraça. Um violento ataque
sobre Jenny, a líder das meninas, leva o herdeiro do bordel a mudar de postura.
Subitamente elas tornam-se suas protegidas e ele assume sem hesitar o papel de
protector. O plot presta-se a vários embaraços e os diálogos revelam uma
ligeireza que garante sorrisos do princípio ao fim, sendo certo que Gene Kelly
nunca consegue fazer do filme a comédia que porventura almejava.
Numa das sequências finais, um tiroteio previsível parece
evocar ironicamente os acontecimentos de O.K. Corral. Só que o corral foi
substituído por um bordel e dentro dele estão os bons, que por acaso são velhos
cowboys que mal sabem pegar numa arma de fogo. E as meninas, claro. Tudo isto
tem o seu quê de hilariante, mas acaba por ser filmado com escusada ênfase
dramática. Nem carne, nem peixe, salvando-se a situação do completo desastre
por nela estarem dois exemplares intervenientes: Henry Fonda e James Stewart.
Não obstante, algo mais justifica uma passagem de olhos por este western comedy (off-color, li algures). Há uma moral nisto tudo que sugere uma leitura alternativa da fábula do sapo e do escorpião. Não se muda a natureza a um escorpião, pelo que não vale a pena julgar que para o sapo que o carregue às costas outro destino pode haver que não seja a morte. Neste caso, a natureza dos dois cowboys por momentos deslocados do seu destino também se revela imutável. Sucede que o bordel não é uma casa de sapos, mas tem por lá umas princesas capazes de demover os escorpiões das suas intenções mais fatalistas. Como o fazem… só elas sabem.
Não obstante, algo mais justifica uma passagem de olhos por este western comedy (off-color, li algures). Há uma moral nisto tudo que sugere uma leitura alternativa da fábula do sapo e do escorpião. Não se muda a natureza a um escorpião, pelo que não vale a pena julgar que para o sapo que o carregue às costas outro destino pode haver que não seja a morte. Neste caso, a natureza dos dois cowboys por momentos deslocados do seu destino também se revela imutável. Sucede que o bordel não é uma casa de sapos, mas tem por lá umas princesas capazes de demover os escorpiões das suas intenções mais fatalistas. Como o fazem… só elas sabem.
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