As minhas particulares circunstâncias fazem com que
assista, durante alguns minutos, à emissão de um noticiário da manhã numa
estação televisiva enquanto tomo o café num estabelecimento. O conteúdo e a
sucessão das notícias orienta-se no sentido da instilação do medo, da
fragilidade, da impotência e, nestes sentimentos induzidos onde a vontade não
deve existir, do lugar protector, porque informativo, do meio de
comunicação. A televisão está aqui, é nossa amiga, dá voz à nossa miséria,
alguém nos virá proteger. Mas a televisão não está naquele lugar com intuitos
profilácticos ou altruístas; a televisão está naquele lugar para fazer
dinheiro, porque a sua presença é injustificada, dado que a repórter alerta
para uma tempestade marítima que não existe, para a violência do vento que não
se verifica. Nada mais para além das condições vulgares do Inverno nesta localização
geográfica do Mundo. Esta dramatização ridícula atinge o ponto culminante
quando a emissão “cai” sem condições meteorológicas tão adversas que o
justifiquem. O bordel “informativo” apoderou-se dos Elementos enquanto arma de
arremesso no prostíbulo geral da domesticação. Concluída esta mise-en-scène de
uma tempestade inexistente, concluída com a interrupção provavelmente forjada
da emissão, transporta-se a ópera-bufa para outro lugar onde também se sente a
adversidade do Inverno. É natural: vigora o Inverno no Hemisfério Norte.
Jorge Muchagato, aqui.
2 comentários:
Henrique, obrigado pela distinção da partilha, abraço.
Ora essa.
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