Sábado passado, desabafava o desencanto fomentado pela
actividade livreira. A gente fica a perceber o país em que vive. E dei exemplo:
em 9 anos de trabalho numa livraria, não me recordo de ter vendido um único
livro da Agustina Bessa-Luís. Isto é um facto tão mais chocante para mim,
quanto ao contrário do que por aí* se supõe sou um homem (ainda por cima de
esquerda) que lê Agustina. Pouco, é certo, mas leio. Muitas vezes me repugna a
lamúria geral em torno da desgraça. As livrarias independentes declaram
falência ao som de carpideiras que nunca nelas meteram pé, quanto mais comprar
um livro. O A. Dasilva O. disse-me em tempos que fechou a Pulga porque estava
farto de aturar tipos que o visitavam mostrando os livros que tinham comprado
na FNAC. Esta é a realidade do país. As pessoas choram o fim de um mundo, sem
que façam o mínimo para que esse mundo não tombe. A minha mulher diz que sou
catastrófico, mas assisto a tudo isto com repulsa indisfarçável. Não é muita a
indignação que por aí se ouve face ao caso Agustina, mas é alguma. Entretanto
será mais. Ora que se fodam. Entrem numa livraria e peçam A Sibila, O Manto, o
Vale Abraão. Não temam estar a contribuir para uma maquiavélica acção
promocional, como já ouvi. Serão absolvidos pelo facto simples de terem
adquirido bons livros, de uma das nossas maiores escritoras vivas. Quando
falecer, já não vale. Miserável país de carpideiras hipócritas, ainda te admiras
que lá do norte te reduzam a putas e vinho verde?
* Página não encontrada cujo conteúdo era mais ou menos este:
* Página não encontrada cujo conteúdo era mais ou menos este:
3 comentários:
Concordo com tudo o que dizes e percebo a posição da editora. Até porque segundo o que li só tiraram os livros porque não houve margem para renegociação do valor mensal pago à autora, que se for o valor que li parece-me descabido em relação às vendas.
Eu leio muito, muito mesmo(leio em média 100-120 por ano), mas infelizmente para comprar livros só na feira do livro na hora H. Raramente compro livros que saiam a não ser no caso de ir visitar uma livraria das verdadeiras (sem ser fnacs e afins) exactamente porque acho que se devem preservar.
Mas, falo por mim, raramente compro, apesar de adorar livros , por motivos económicos. Alugo de bibliotecas com regularidade, e vou lendo o que tenho em casa que ainda não li. Tenho pena porque adorava ter uma biblioteca enorme, mas é o que é, e a minha realidade é a de muitos portugueses.
Em relação a Agustina, acho que há um acréscimo de dificuldade ao preço, que é o tipo de livros que escreve. Não os acho fáceis para o típico leitor português que lê José Rodrigues dos Santos como nível máximo de complexidade (sem crítica, só facto).
Completamente de acordo, Henrique. E tomo, infelizmente, a indignação cada vez mais como um mecanismo de uma vaidade tão legitimada que já chega ao ponto de moralizar. A realidade é que vê o que não compra. Mas vende, se vende...
Eu comprei e li vários livros da Agustina na Babel :)
Enviar um comentário