Os domingos são dias especiais. A plebe aproveita o sol
para sair de casa e enfiar-se directamente na catedral do consumo. Vê-se de
tudo, mormente falta de humor, frustração, irritabilidades. Sugere-se aos
inventores deste país um protector solar para recintos fechados. Com mais ou
menos paciência, vamos arquivando as chalaças dos domingos. Três exemplos
inofensivos:
O bruto que entra de rompante e, sem mais nem quê, chuta
do alto de um semblante assoberbado:
— Onde é que tem os livros que ensinem aos rapazes aquilo
de que as mulheres gostam?
Ainda penso perguntar-lhe que mulheres, mas escuso-me a padecimentos
com a dúvida clássica:
— Para que idades? — como se houvesse uma secção
especializada no assunto, organizada por idade e ano escolar, como se soubesse
do que falava.
— 25 anos. — Responde-me, e eu fico a pensar que é
de facto cada vez mais comum rapazes de 25 anos com dúvidas acerca do que as
mulheres gostam. Desconfio que nenhum livro os possa ajudar, embora a esperança
seja a última a morrer.
A um mesmo nível de rusticidade, mas no feminino e
contaminada por aquilo a que costumo chamar o vírus da ignorância arrogante. Há
muito quem faça questão de o ostentar. Eis um exemplo. Solicitadas sugestões,
resvalo no erro de referir o Nobel atribuído a determinado autor. Supunha eu,
na minha ingenuidade, que pudesse ser factor convincente. Reacção imediata:
— Não gosto dessas pessoas que se julgam superiores aos
outros.
Portanto, academias e “nobéis” deste mundo, sejam humildes. Nada de premiar o trabalho de um escritor, sob pena de o indivíduo
passar a julgar-se superior aos outros que estão nesse lugar onde é possível censurar
a superioridade dos demais segundo critérios que apenas a alguns felizes
iluminados é dado conhecer. Se é que me faço entender.
Por fim, o tradicional lapso com nomes de autores. Sempre
bafejados pela graça, "aos molhos" e para todos os gostos. Fica este.
— Onde é que tem o último livro do Bruno Amaral Dias?
6 comentários:
meu pobre amigo! quase sinto culpa pelas tardes de remanso a ler Mário de Sá-Carneiro na quietude do quintal :p
Esse primeiro episódio abre um cenário de esperança. Cuidava eu que não haveria qualquer mercado para um livro subordinado ao tema dos gostos das mulheres.
Bem, eu por acaso, troco os nomes todos, dos escritores, dos livros, de pessoas que conheço, pode ser muito complicado... (e fico imensamente grata quando mesmo assim conseguem descobrir a quem me refiro)
Maria, não sintas. Afinal o Mário matou-se ainda não tinha 26, eu já levo 42.
Cuca, o mercado é mais exíguo do que aparente: livro para ensinar a um tipo de 25 o que as mulheres gostam. Não é exactamente um livro sobre os gostos das mulheres.
Redonda, uma vez, numa farmácia, perguntei se tinham pomadas antimictóricas. :-)
Eu por acaso sou daquelas que passeia ao domingo com um livro debaixo do braço.
E faz muito bem :-)
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