domingo, 9 de abril de 2017

DOMINGOS

Os domingos são dias especiais. A plebe aproveita o sol para sair de casa e enfiar-se directamente na catedral do consumo. Vê-se de tudo, mormente falta de humor, frustração, irritabilidades. Sugere-se aos inventores deste país um protector solar para recintos fechados. Com mais ou menos paciência, vamos arquivando as chalaças dos domingos. Três exemplos inofensivos:

O bruto que entra de rompante e, sem mais nem quê, chuta do alto de um semblante assoberbado:
— Onde é que tem os livros que ensinem aos rapazes aquilo de que as mulheres gostam?
Ainda penso perguntar-lhe que mulheres, mas escuso-me a padecimentos com a dúvida clássica:
— Para que idades? — como se houvesse uma secção especializada no assunto, organizada por idade e ano escolar, como se soubesse do que falava.
— 25 anos. — Responde-me, e eu fico a pensar que é de facto cada vez mais comum rapazes de 25 anos com dúvidas acerca do que as mulheres gostam. Desconfio que nenhum livro os possa ajudar, embora a esperança seja a última a morrer.

A um mesmo nível de rusticidade, mas no feminino e contaminada por aquilo a que costumo chamar o vírus da ignorância arrogante. Há muito quem faça questão de o ostentar. Eis um exemplo. Solicitadas sugestões, resvalo no erro de referir o Nobel atribuído a determinado autor. Supunha eu, na minha ingenuidade, que pudesse ser factor convincente. Reacção imediata:
— Não gosto dessas pessoas que se julgam superiores aos outros.
Portanto, academias e “nobéis” deste mundo, sejam humildes. Nada de premiar o trabalho de um escritor, sob pena de o indivíduo passar a julgar-se superior aos outros que estão nesse lugar onde é possível censurar a superioridade dos demais segundo critérios que apenas a alguns felizes iluminados é dado conhecer. Se é que me faço entender. 

Por fim, o tradicional lapso com nomes de autores. Sempre bafejados pela graça, "aos molhos" e para todos os gostos. Fica este.


— Onde é que tem o último livro do Bruno Amaral Dias?

6 comentários:

maria disse...

meu pobre amigo! quase sinto culpa pelas tardes de remanso a ler Mário de Sá-Carneiro na quietude do quintal :p

Cuca, a Pirata disse...

Esse primeiro episódio abre um cenário de esperança. Cuidava eu que não haveria qualquer mercado para um livro subordinado ao tema dos gostos das mulheres.

redonda disse...

Bem, eu por acaso, troco os nomes todos, dos escritores, dos livros, de pessoas que conheço, pode ser muito complicado... (e fico imensamente grata quando mesmo assim conseguem descobrir a quem me refiro)

hmbf disse...

Maria, não sintas. Afinal o Mário matou-se ainda não tinha 26, eu já levo 42.

Cuca, o mercado é mais exíguo do que aparente: livro para ensinar a um tipo de 25 o que as mulheres gostam. Não é exactamente um livro sobre os gostos das mulheres.

Redonda, uma vez, numa farmácia, perguntei se tinham pomadas antimictóricas. :-)

Laura Ferreira disse...

Eu por acaso sou daquelas que passeia ao domingo com um livro debaixo do braço.

hmbf disse...

E faz muito bem :-)