Há 50 anos, os The Doors e os The Velvet Underground lançavam
álbuns de estreia. O mundo do rock fervilhava com propostas que iam do progressivo
ao psicadélico. Apareceu nos escaparates Surrealistic Pillow, de Jefferson
Airplane, os The Who deram o primeiro concerto nos states, Jimi Hendrix incendiou
a guitarra durante uma actuação, os The Beatles lançaram Sgt. Pepper’s Lonely
Hearts Club Band. O amor hippie andava no ar, acompanhado por doses generosas
de drogas e mortes inesperadas. Atravessar toda esta confusão e sobreviver era
acto heróico.
Bob Dylan, que havia surpreendido o mundo há não muito com a
conversão à guitarra eléctrica, edita John Wesley Harding (1967). Sempre à
margem das tendências, oferece ao caos instalado no meio um disco de inspiração
folk, com a guitarra acústica de regresso à linha da frente, letras inspiradas
em experiências místicas, algumas delas bíblicas, povoadas por personagens
directamente respigadas do imaginário popular norte-americano tal o fora da lei
que dá título à colectânea. Referências ao filósofo Thomas Paine, uma canção
intitulada I Dreamed I Saw St. Augustine, dão bem conta do espírito de um álbum
que fecha com uma das baladas mais tranquilizantes de Dylan: I’ll Be Your Baby
Tonight.
Hendrix ainda faria uma versão magistral de All Along the Watchtower
(uma das canções de Dylan mais tocadas por outros músicos), mas o espírito de
Bob Dylan era outro. Está
implícito em The Ballad of Frankie Lee and Judas Priest, uma espécie de Fausto com uma moral simples: «Well, the
moral of the story / The moral of this song / Is simply that one should never
be / Where one does not belong». Expiação numa balada que é também uma
homenagem aos blues e às raízes de um escritor de canções que com 8 álbuns
publicados entre 1962 e 1967 parecia já ter visto tudo o que havia para ver.
Sem comentários:
Enviar um comentário