segunda-feira, 24 de abril de 2017

"Midnight Creep"


Há 50 anos, os The Doors e os The Velvet Underground lançavam álbuns de estreia. O mundo do rock fervilhava com propostas que iam do progressivo ao psicadélico. Apareceu nos escaparates Surrealistic Pillow, de Jefferson Airplane, os The Who deram o primeiro concerto nos states, Jimi Hendrix incendiou a guitarra durante uma actuação, os The Beatles lançaram Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. O amor hippie andava no ar, acompanhado por doses generosas de drogas e mortes inesperadas. Atravessar toda esta confusão e sobreviver era acto heróico. 
Bob Dylan, que havia surpreendido o mundo há não muito com a conversão à guitarra eléctrica, edita John Wesley Harding (1967). Sempre à margem das tendências, oferece ao caos instalado no meio um disco de inspiração folk, com a guitarra acústica de regresso à linha da frente, letras inspiradas em experiências místicas, algumas delas bíblicas, povoadas por personagens directamente respigadas do imaginário popular norte-americano tal o fora da lei que dá título à colectânea. Referências ao filósofo Thomas Paine, uma canção intitulada I Dreamed I Saw St. Augustine, dão bem conta do espírito de um álbum que fecha com uma das baladas mais tranquilizantes de Dylan: I’ll Be Your Baby Tonight.
Hendrix ainda faria uma versão magistral de All Along the Watchtower (uma das canções de Dylan mais tocadas por outros músicos), mas o espírito de Bob Dylan era outro. Está implícito em The Ballad of Frankie Lee and Judas Priest, uma espécie de Fausto com uma moral simples: «Well, the moral of the story / The moral of this song / Is simply that one should never be / Where one does not belong». Expiação numa balada que é também uma homenagem aos blues e às raízes de um escritor de canções que com 8 álbuns publicados entre 1962 e 1967 parecia já ter visto tudo o que havia para ver.


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