terça-feira, 27 de junho de 2017

O VERÃO DE ULLA HAHN


ESTE VERÃO

Este Verão ensina-me
a amar as minhas cicatrizes
a enfeitar-me com marcas de estrangulamento no pescoço

Este Verão ensina-me
a fechar à chave a amargura e fico
bem roliça e anafada pareço bem tratada

Este Verão ensina-me
a gritar o bel canto

Este Verão ensina-me
que a solidão descansa
e cresce numa mão

Este Verão ensina-me
a não confundir um corpo disponível
com o desejo de felicidade

Este Verão ensina-me
a ser para cada pedra um espelho de água

Este Verão ensina-me
a amar grandes bolas de sabão e pequenas
antes de rebentarem

Este Verão ensina-me
que tudo sem nós
por si continua

Este Verão ensina-me
um rosto gelado feliz

Este Verão ensina-me
tenho que ser eu a bater no tambor
quando quiser dançar

Este Verão ensina-me
a ser sem felicidade sem tristeza por uns
segundos aliada de Deus

Este Verão ensina-me
a acordar de manhã. Grata. Sozinha

Este Verão ensina-me
que a folha do limoeiro só deita cheiro
quando a desfazemos entre os dedos.


Ulla Hahn (n. 30 de Abril de 1946, Kirchhundem, Alemanha), in A Sede Entre os Limites, trad. João Barrento, Relógio D'Água, 1992, pp. 109-111.

4 comentários:

manuel a. domingos disse...

No outro dia reli este livro. Comprei-o na Feira. Li-o a primeira vez aos vinte e poucos. É um livro muito bom.

Carlos Ramos disse...

Grande Poema

Não conhecia a escritora

Obrigado Henrique
Um abraço

hmbf disse...

Olá manuel.

hmbf disse...

Olá Carlos.