ESTE VERÃO
Este Verão ensina-me
a amar as minhas cicatrizes
a enfeitar-me com marcas de estrangulamento no pescoço
Este Verão ensina-me
a fechar à chave a amargura e fico
bem roliça e anafada pareço bem tratada
Este Verão ensina-me
a gritar o bel canto
Este Verão ensina-me
que a solidão descansa
e cresce numa mão
Este Verão ensina-me
a não confundir um corpo disponível
com o desejo de felicidade
Este Verão ensina-me
a ser para cada pedra um espelho de água
Este Verão ensina-me
a amar grandes bolas de sabão e pequenas
antes de rebentarem
Este Verão ensina-me
que tudo sem nós
por si continua
Este Verão ensina-me
um rosto gelado feliz
Este Verão ensina-me
tenho que ser eu a bater no tambor
quando quiser dançar
Este Verão ensina-me
a ser sem felicidade sem tristeza por uns
segundos aliada de Deus
Este Verão ensina-me
a acordar de manhã. Grata. Sozinha
Este Verão ensina-me
que a folha do limoeiro só deita cheiro
quando a desfazemos entre os dedos.
Ulla Hahn (n. 30 de Abril de 1946, Kirchhundem, Alemanha), in A Sede Entre os Limites, trad. João Barrento, Relógio D'Água, 1992, pp. 109-111.
4 comentários:
No outro dia reli este livro. Comprei-o na Feira. Li-o a primeira vez aos vinte e poucos. É um livro muito bom.
Grande Poema
Não conhecia a escritora
Obrigado Henrique
Um abraço
Olá manuel.
Olá Carlos.
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