José Pacheco Pereira é um homem fascinante. Alia ao semblante
de filósofo grego um pragmatismo deveras contemporâneo, tornando assim possível
e coerente manter-se num partido cuja governação lhe inspirou as mais acintosas
prosas. Não é por acaso que nos gloriosos tempos de Passos & Portas muitos acabaram
por atribuir a JPP a mais hábil das oposições, a qual trouxe pelos cabelos
certas figurinhas ridículas do PPD/PSD. Aí o temos, mais uma vez, ao lado de uma autarca
modelo, presumo, segundo padrões que só a elaborada teoria política do autor do
weblog Abrupto poderá explicar. À frente da Câmara Municipal de Rio Maior desde
2009, the woman in red conseguiu governar a três velocidades: parado,
paradinho, paradão. Não é para mim um mistério, que naquela terra nasci e daquela
terra parti, assistir ali à consagração da inoperância. Mais difícil de
entender é a simpatia de Pacheco Pereira por tais atributos. Ao tentar
compreendê-lo, ocorreu-me um caso hipotético explanado numa crónica do Público datada de
2012.
«Vejamos um caso hipotético e compósito de um político
tornado gestor. Começou por baixo, por um aparelho partidário local cujo
controlo assegurou, primeiro pessoalmente, depois através de homens de sua
confiança pessoal. Durante toda a sua vida política nunca deixará de manter um
controlo rigoroso sobre a sua zona de influência original, colocando lá homens
de mão, que mais tarde emprega, distribuindo benesses e lugares sempre em
primeira mão para o aparelho onde se iniciou e cresceu. Perder o controlo dessa
base original é um grande risco, porque é aí que as pessoas melhor o conhecem,
numa altura em que os seus primeiros passos de carreira ainda eram crus e pouco
sofisticados e deixaram rastro.
Iniciou-se a receber "avenças" dos empresários locais que conheceu no
processo de obter financiamentos para a actividade partidária. Começa a entrar
ou a fazer uma rede de "amigos", a que garante
"facilidades" junto do poder central e local, primeiro em coisas
simples e baratas e depois vai fazendo o upgrade para negócios mais sérios.
Quase toda a sua economia pessoal é feita à margem do fisco e da lei, mas isso
há uns anos atrás não era problema nenhum, porque o controlo fiscal dos
rendimentos era uma ficção e hoje também não é por que há offshores . Se havia
algum escândalo público, a explicação clássica era de que "ganhou na
bolsa", e se esse escândalo implicasse problemas com a justiça, o que era
raríssimo, pagavam-se de imediato os impostos em falta e esperava-se que a
máquina emperrasse nas prescrições ou numa tecnicalidade, como quase sempre
acontecia.
Nesta altura, o nosso político hipotético já dá uma grande atenção à
comunicação social e através de fugas de informações, que favorecem uma
carreira jornalística, ou através de favores, presentes, ou mesmo falsas
avenças ou empregos para familiares dos jornalistas no novo universo
empresarial em construção, já tem um círculo de jornalistas no seu bolso.
Nenhum, insisto, nenhum dos que fazem esta carreira hipotética o consegue fazer
sem relações privilegiadas com a comunicação social, umas vezes pessoais,
dominantes no passado, hoje através de agências de comunicação pagas a peso de
ouro. Esse ouro é pago por nós através de encomendas de serviços "de comunicação"
por uma autarquia ou um ministério "amigo", assegurados, como tudo,
pelo acesso ao poder político. Não existe hoje nenhuma destas microrredes de
poder que não esteja ligada à comunicação social e que não dê importância
decisiva a esse factor. No fundo, são políticos modernos, antes sabiam bem do
poder do telefone e dos almoços de negócios, antes de ter medo das escutas,
hoje exploram a fundo o spin e as redes sociais.
Se for esperto, e muitos são mesmo muito espertos, sai a tempo da política e dedica-se
"exclusivamente" aos negócios. Os seus negócios têm uma
característica comum - fazem-se todos na "área de negócios
politizados", todos dependem do acesso ao poder político e da decisão
política, seja através de informação privilegiada, seja através de facilidades
e escolhas de favor. Mas também por isso fica sempre com um pé, e um grande pé,
dentro da política. Emprega nas suas empresas os seus companheiros de partido,
e a sua família, cria laços sólidos no Estado e nas autarquias, recomendou e obteve
a colocação de muitas pessoas que lhe são fiéis, ajuda a obter créditos e
tratar de problemas com o fisco, ameaça quando é preciso e aparece quando é
preciso. Nalguns casos institucionaliza a sua microrrede ou em associações e
lobbies , ou, sempre deste retrato hipotético e compósito, entra numa maçonaria
e usa-a para novas relações e novos recrutamentos em áreas sensíveis de
decisão. Nos exemplos mais modernos recruta mesmo nos blogues alguns jovens
lobos sedentos de notoriedade, poder e influência e que precisam de
patrocinato, e a quem "enreda" para que não lhe venham a criar
problemas no futuro. O que vemos hoje in the making é uma nova geração,
preparada e escolhida pela anterior, de políticos deste tipo, uns na primeira
divisão, mas a maioria na segunda divisão, onde também se ganha muito dinheiro
com muito mais discrição.»
O nosso caso hipotético está longe de ser uma realidade,
é apenas hipótese académica surgida na cabeça de um bom professor. Pacheco
Pereira sabe como é, sabe como se faz, e é por isso que pensa por hipóteses, e
é por isso que, por hipótese, devemos sempre interrogar-nos onde pretenderá ele
chegar quando entre o que prega e o que faz achega-se ao poder local como o óleo
à aguarrás.
*Ao cuidado do Malomil.
1 comentário:
hipo-tético tético
pacheco local
josé
pereira
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pacheco
hipo-tética natal
achadamente
foder
é sensacional
pode ser logo logo
no local
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Abília Lhuopes, poetisa achadamente
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