Há uns meses, abrindo café novo nas imediações da casa
portuguesa, vi que tinham umas prateleiras nas paredes com livros. Passei por
lá e deixei uns exemplares que tinha repetidos em casa de Madame Bovary e
de Moby Dick. Disse à jovem senhora, agradecida pela oferta e de uma
polidez e simpatia irrepreensíveis, que a coisa fica mais composta com aqueles
clássicos. De uma geração que fez o secundário e que provavelmente frequentou a
universidade, disse que os desconhecia. Nada que surpreenda, nem eu a condeno
por isso. É algo de perfeitamente normal entre nós. Todos nós conhecemos gente
boa e bem formada que os desconhece.
Por outro lado, há qualquer coisa que falha no sistema de
ensino português quando aqueles que o frequentaram chegam à idade adulta sem
conhecerem (ainda que pela rama) esses romances fundamentais do sec. XIX. Há
algo de errado numa sociedade que não os propaga e oferece, louvando-os,
falando deles, aos geral dos indivíduos que a integram. De alguma forma, essa
falha é colmatada à medida que nos deslocamos do sudoeste europeu até ao
extremo nordeste. Há mais livros, mais leitores. Diria que mais bom-senso e empatia,
mais silêncio e menos treta.
1 comentário:
Não poderia estar mais de acordo. Há uns anos em trivial conversa com colegas ligeiramente mais novos do que eu, fiquei incrédulo e aterrorizado pois desconheciam em absoluto a palavra Woodstock e por inerência o facto histórico subjacente. Há menos tempo também eu ofereci alguns livros a um café recém aberto na cidade que também tinha prateleiras com espaço para os ditos, mas poucos exemplares. Levei alguns exemplares que estavam repetidos, inclusive meus. Os livros estiveram lá alguns meses, nunca vi ninguém a lê-los ou simplesmente com curiosidade para folheá-los. Um belo dia entrei e reparei que haviam feito uma nova decoração. Nem é preciso dizer o que aconteceu aos livros, nunca perguntei pois sei que a resposta será algo que não quererei escutar.
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