segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

UM POEMA DE PHILIP LARKIN


TRISTES PASSOS

Tropeçando de volta à cama depois de uma mija
Afasto as grossas cortinas e surpreendo-me
Com as nuvens que correm, com a lua tão limpa.

Quatro da manhã: jardins de sombras oblíquas, jazendo
Sob um céu cavernoso e rasgado pelo vento.
Há nisto uma faceta ridícula,

Na lua a lançar-se através de nuvens fugazes
E soltas como fumo de canhão, para logo se apartar
(A luz pétrea aguçando, cá em baixo, os telhados)

Alta e soberba e separada — 
Pastilha de amor! Medalhão de arte!
Ó lobos da memória! Imensidões! É certo,

Há um leve arrepio, quando se olha para o alto.
A dureza e a claridade e o alcance,
A singularidade de tão vasto e fixo olhar

É lembrança da força e da dor
De ser jovem; do que não se pode ter de novo,
Mas que é vivido por outros, em pleno, nalgum lugar.


Philip Larkin (n. 9 de Agosto de 1922, Radford, Coventry, Reino Unido - m. 2 de Dezembro de 1985, Kingston upon Hull, Reino Unido), in Janelas Altas, trad. Rui Carvalho Homem, Cotovia, Março de 2004, p. 77.

1 comentário:

manuel a. domingos disse...

Belo poema.
Poeta muito cá de casa.