segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

A LER



Há uma frase do Lacan sobre a paixão. Era qualquer coisa do género: “a paixão – ou o amor, já não sei – é dar o que não se tem a quem não quer receber”. E eu acho que a função pedagógica é da mesma ordem. É dar o que não se tem, porque ninguém sabe tudo… sabe-se umas coisas, tem-se umas ideias, umas impressões, melhor ou pior organizadas. Portanto, dá-se o que não se tem a pessoas que não querem totalmente receber o que se está a dar. E têm toda a razão, porque têm mais que fazer na vida, têm outras ideias, etc. Ponhamos as coisas assim: dentro daquilo que eu posso fazer, o mais que posso é manter esta forma de fazer as coisas, trabalhar o melhor possível dentro desta forma, e não procurar fazer doutra maneira, encontrar outro estilo que eventualmente não teria tanto que ver comigo. Ou seja, isto não é resistência, mas mais persistência. Enquanto me deixarem e tiver condições para o fazer, irei fazendo, da melhor forma possível, nestes moldes. Mas tenho ideia de que tudo isto é muito relativo, que a minha maneira não é necessariamente melhor ou pior do que outras formas de fazer a mesma função. Acima de tudo, acho que devem vir outras pessoas que consigam fazer isto de uma forma mais orgânica e equilibrada.


Fernando Guerreiro, entrevistado aqui.

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