Há uma frase do Lacan sobre a paixão. Era qualquer coisa
do género: “a paixão – ou o amor, já não sei – é dar o que não se tem a quem
não quer receber”. E eu acho que a função pedagógica é da mesma ordem. É dar o
que não se tem, porque ninguém sabe tudo… sabe-se umas coisas, tem-se umas
ideias, umas impressões, melhor ou pior organizadas. Portanto, dá-se o que não
se tem a pessoas que não querem totalmente receber o que se está a dar. E têm
toda a razão, porque têm mais que fazer na vida, têm outras ideias, etc.
Ponhamos as coisas assim: dentro daquilo que eu posso fazer, o mais que posso é
manter esta forma de fazer as coisas, trabalhar o melhor possível dentro desta
forma, e não procurar fazer doutra maneira, encontrar outro estilo que
eventualmente não teria tanto que ver comigo. Ou seja, isto não é resistência,
mas mais persistência. Enquanto me deixarem e tiver condições para o fazer,
irei fazendo, da melhor forma possível, nestes moldes. Mas tenho ideia de que
tudo isto é muito relativo, que a minha maneira não é necessariamente melhor ou
pior do que outras formas de fazer a mesma função. Acima de tudo, acho que
devem vir outras pessoas que consigam fazer isto de uma forma mais orgânica e
equilibrada.
Fernando Guerreiro, entrevistado aqui.
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