segunda-feira, 19 de março de 2018

UM POEMA DE E.E. CUMMINGS


[ix]

nada é mais exactamente terrível do que
estar sozinho em casa,com alguém e
com alguma coisa)
                               Partiste.    há  risos

e o desespero imita uma rua

eu inclino-me à janela,contemplo espectros,
                                                                     um homem
estreitando uma mulher num parque.   Perfeito.

e ao de leve(porquê?ou para não compreendermos)
ao de leve eu estou ouvindo alguém
a vir para cima,cautelosamente
(cautelosamente subindo atapetado lanço após
atapetado lanço.   serenamente,subindo
os atapetados degraus do terror)

e continuamente eu estou vendo alguma coisa

inalando suavemente um cigarro(num espelho


e.e. cummings (n. 14 de Outubro de 1894, Cambridge, Massachusetts, EUA - m. 3 de Setembro de 1962, North Conway, New Hampshire, EUA), in xix poemas, trad. Jorge Fazenda Lourenço, Assírio & Alvim, 2.ª edição, 1998, p. 45. Mais sobre cummings: aqui.

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