segunda-feira, 16 de julho de 2018

UMA ESTRELA


   Quando Miguel Esteves Cardoso publicou “O Amor é Fodido” a discussão em torno da linguagem teve algum interesse. Diversos sucedâneos que não farão história procuraram utilizar a provocação do título como argumento publicitário. O que havia de interessante na discussão desceu ao grau zero, pelo que já ninguém levou a sério o título “Como é Linda a Puta da Vida”. Entre as crónicas deste livro, que foi um sucesso de vendas, estavam histórias de amor que fazem as delícias das redes sociais. A linguagem já não importava, pelo menos não tanto quanto as emoções associadas às palavras. 
   Recentemente, as livrarias foram invadidas de títulos congéneres. Em comum, o uso do calão. A culpa é do bestseller “A Arte Subtil de Saber Dizer Que se Foda”, de Mark Manson, publicado pela neófita Desassossego. 


O cheiro a sucesso impregna de tal modo a cabeça dos editores portugueses que as réplicas não tardaram. Já sem nenhuma subtileza, e criatividade zero, a IN publicou "Mude a Sua Vida Aprendendo a Dizer Que se Foda", de Sarah Knight. 



Correndo atrás do cifrão, a Vogais procurou inovar. Substituiu o palavrão publicando "Como Sobreviver a um Filho da Puta", de Robert I. Sutton. Nada de novo, porém. Há anos, a Casa das Letras publicou "O Livro do Filho da Puta", que nada tem que ver com a genial sátira assinada por Alberto Pimenta com o título "Discurso Sobre o Filho-da-Puta".



Isto podia ter ficado por aqui, não fosse dar-se o caso de onde há foda e putas haver sempre lugar a merda. Eis que chega às livrarias "Como Deixar de Se Sentir Uma Merda", de Andrea Owen. Publica a Presença. 



Comum a todos estes livros, uma estrela no lugar de uma letra. Uma estrela. Nas livrarias, estes livros roubam posição de destaque a outros livros. Adivinhem quais. 

2 comentários:

Anónimo disse...

A Puta da Literatura Séria já não Vende.

spumpkin disse...

livraria filha da putice