terça-feira, 11 de setembro de 2018

O MUNDO NUNCA MAIS FOI O MESMO


   Insistimos nos ataques suicidas contra os EUA, de 11 de Setembro de 2001, como tendo mudado definitivamente o mundo. O mundo nunca mais foi o mesmo, dizemos. Como se isso quisesse dizer alguma coisa, como se aí estabelecêssemos uma fronteira histórica. Qual o verdadeiro significado dessa fronteira?
   Ao que se sabe, os ataques terão sido organizados pelos fundamentalistas islâmicos da al-Qaeda. Esta mesma organização foi financiada pelos EUA quando o objectivo principal era a expulsão de tropas russas do território afegão. Bin Laden, líder da al-Qaeda, foi outrora visto como um herói pelos americanos, que não só o treinaram militarmente, como lhe ofereceram armas. 
   Só depois da Guerra do Golfo, em 1991, com a instalação dos americanos na península arábica, é que Bin Laden se começou a opor aos americanos. E quem se opõe aos americanos torna-se inimigo dos americanos. Para sermos exactos, foi a Guerra do Golfo que mudou a face do mundo. Desde logo, foi a primeira a que pudemos assistir em directo com maratonas televisivas épicas. 
   Na sequência da Guerra do Golfo, o Iraque de Saddam Hussein ficou no goto dos americanos até à ocupação de 2003. Esta ocupação teve na sua origem uma “guerra global contra o terrorismo” assente numa mentira: a de que o Iraque possuiria armas de destruição em massa. Depois desta ocupação o mundo também nunca mais foi o mesmo, pois foi a partir daqui que se formaram movimentos como os do chamado Estado Islâmico, ISIS ou Daesh. 
   Da al-Qaeda anti-soviética ao Daesh antiocidental não passaram muitos anos, um dos intervenientes foi sempre o mesmo e o mundo foi mudando na sequência dos interesses particulares desse interveniente. Que insistamos na ideia de que o mundo nunca mais mudou depois do 11 de Setembro de 2001 é uma patetice. Pior, é de uma insensibilidade gritante face aos problemas do mundo. 
   Os atentados às torres nova-iorquinas são particularmente horríveis por condensarem em poucas horas o terror de atentados perpetrados ao longo de anos, dos quais não nos chegam senão fragmentos. Em Nova Iorque caíram torres, em todo o Médio Oriente são cidades, países inteiros, o que tem tombado. Sem grandes percalços emocionais para a história de um mundo em mudança, acrescente-se. Ou julgam que os migrantes afogados no Mediterrâneo vêm do nada? Não morrem carbonizados em torres, morrem afogados no mar enquanto fogem de guerras nos seus países. Guerras que têm uma história, uma origem. Ainda que dessa história insistamos em contar só a parte que nos interessa.

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