Os Franceses lêem em média 16 livros por ano;
os Portugueses compram, em média, menos de dois livros por ano (os
valores não resultam de uma comparação controlada, mas a amplitude da diferença
é esclarecedora). A França, hoje sempre vista como o exemplo da perda de
hegemonia cultural no mundo, ainda tem uma verdadeira cultura literária, com
mercado que disponibiliza toda a grande literatura em edições de bolso
baratíssimas, estrelas intelectuais, tradição de debate. Quem "não tem
tempo" para ler pode limitar-se a comparar durante o jogging a
qualidade dos podcasts da France Culture com os
nossos podcasts de alta cultura para perceber que a diferença é
abissal. Os Franceses discutem a sério. Mesmo as discussões muito
mediatizadas, sempre afectadas pela componente teatral, têm um nível da
argumentação, riqueza de informação e choque de ideias sem paralelo
em Portugal, um país em que Pedro Adão e Silva e Pedro Marques Lopes fazem
um programa de "debate" cujo único contraste é a qualidade
da exposição de uma mesma ideia - aliás, em Portugal todos os programas
com painel fixo não são de debate, pois 95% do tempo é gasto com monólogos pensados
antes do programa, não havendo tempo para discutir. E não divago, porque isto
está tudo ligado. A ideia de que as elites não são afectadas pelo nível
cultural médio do país deve ter sido posta a circular pelas elites e
carece de confirmação empírica.
(...)
Vasco M. Barreto, no Ouriquense.
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