terça-feira, 20 de novembro de 2018

UM POEMA DE AMELIA BIAGIONI



MORTE

Ó peixe, vi-te protestar silenciosamente,
espantado por morreres assim, arrancado
à felicidade. Ó estilizado,
cinzento suspiro, na areia dolorosa.

Ai, tua quietude adensa, luminosa.
E entretanto, teu vazio delicado
gira no rio, que te chama, ondulado
por esse giro e não por outra coisa.

Que Idade Média expira no teu perfil,
e no teu manto prateado, no teu rabo
e nome de rei?

Dói ser observado pelo teu olho inocente.
Dou-te a minha solidão como onda,
Imóvel peixe-rei.

Amelia Biagioni (n. Gálvez, Argentina, 1916 - m. Buenos Aires, idem, 2000), traduzido por HMBF a partir da versão coligida por Marta Ferrari, in Poesía Argentina - Antología esencial, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, p. 71.

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