Vais fazer 36 anos sem ter ido ao Japão,
sem ter feito um nome,
como é uso nas novas gerações.
Tens escrito mais, é verdade,
agora até calções usas
e as personagens que vais representando
mantêm distância do chão que pisas
de segunda a domingo.
Diz a auto-ajuda
que amas com maior sabedoria,
embora essa irritação
que te explode nos genes
continue a não dar jeito nenhum.
(tanta gente a quem ligares
pessoas suspensas no calendário
como quem adia milagres,
surpresas que não nos acontecem sozinhos).
Vais fazer 36 anos,
a idade do profeta ficou bem mais longe
e só te resta a idade dos homens.
Nuno Costa Santos (n. 1974), in Às vezes é um insecto que
faz disparar o alarme (2012). Autor de uma obra dispersa por vários géneros,
escreveu para cinema, televisão, rádio, teatro. Tem vários livros de crónicas
publicados e um romance revelador da importância que atribui a uma busca
incessante dos fundamentos, das raízes, do passado enquanto alicerce de uma
existência não esgotável no quotidiano presente. Exímio coleccionador de
aforismos, publicou também poesia: Os dias não estão para isso (Livramento,
2006) e Às vezes é um insecto que faz disparar o alarme (Companhia das Ilhas, 2012).
De carácter aforístico, a poesia de Nuno Costa Santos exibe um olhar atento ao
mundo dos homens. As “pequenas coisas” sobrelevadas no segundo título surgem
enquanto núcleo celular a partir do qual um corpo se desenvolve, sendo
particularmente sensível o modo como se articulam estas pequenas coisas,
supostamente irrelevantes, com uma noção de sentido para a vida emotiva e
simplificadora. Poeta dos afectos, como também o foram O’Neill, Assis Pacheco
ou mesmo Ruy Belo, Nuno Costa Santos denota uma segurança que lhe permite ser
claro sem resvalar para o sentimentalismo ou para a gratuitidade emotiva. Mas ainda que essa clareza
enuncie a busca de «uma luz própria e irrepetível», o lado sombrio da vida
também tem lugar nestes versos sob a forma de uma nostalgia que relativiza toda
e qualquer excessiva dramatização existencial.
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