Por falar em Thomas Hardy (1840-1928), a Relógio D’Água publicou
em 2018 dois romances da sua autoria em Portugal: O Mayor de Casterbridge, que
mencionei aqui, e O Pregador Atormentado. Talvez não seja má ideia pegar neles
entretanto. Já em 2015, a Presença editou Longe da Multidão. Este foi adaptado ao
cinema pelo dinamarquês Thomas Vinterberg (n. 1969), o mesmo de Festen/A Festa
(1998). Far From The Madding Crowd/Longe da Multidão (2015) desloca-nos para a Era
Vitoriana, numa Inglaterra rural onde o moralismo sexual não se impôs tão
veementemente como na cidade dos aristocratas. A história de Thomas Hardy
desafia precisamente essa moralidade nos domínios da paixão amorosa, oferecendo
a uma personagem feminina o papel principal. Carey Mulligan, que, curiosamente,
no mesmo ano deste filme teve um outro desempenho relevante em Suffragette/As
Sufragistas (2015), de Sarah Gavron (n. 1970), dá corpo à independente
Bathsheba Everdene. Órfã de pai e de mãe, habituou-se a viver sozinha e a
desenrascar-se pelos próprios meios. É uma mulher a tentar vingar num mundo de
homens. Logo no início, a sequência em que surge montando a cavalo é assaz
reveladora da personalidade em causa. A paisagem e os cenários são lindíssimos,
a fotografia excelente, mas nem sempre o corpo de actores é convincente. Tom
Sturridge, por exemplo, falha redondamente no papel de Sergeant Francis Troy.
Não só não tem corpo de militar, como nos gestos mais se assemelha a uma
borboleta do que a um oportunista. É um dos três pretendentes a Bathsheba,
juntando-se ao fiel pastor de ovelhas Gabriel Oak (Matthias Schoenaerts) e ao
riquíssimo, mas solitário, latifundiário William Boldwood (Michael Sheen). Deste será o desempenho mais convincente. Os três quase nunca estão em conflito
entre eles, o conflito processar-se-á dentro da cabeça e no interior do coração
da livre, autónoma e independente Bathsheba. Dando ares de história de
princesas, Far From The Madding Crowd tem o final que se prevê em todos os
dramalhões românticos. Não obstante, o argumento em si não me parece ser o mais
relevante neste filme. O olhar de Thomas Vinterberg, esse sim, merece ser
relevado, por através dele nos serem oferecidos ambientes e paisagens de um
naturalismo encantador. A banda sonora é de Craig Armstrong.
4 comentários:
Gostei muito de ver Matthias Schoenaerts no filme "Ferrugem e Osso", que é, quanto a mim, um filme do caraças (não chega a ser "do catano").
Esse nunca vi, mas do Audiard anseio pelos "Irmãos Sisters". :-) Gostei muito do "De Tanto Bater o Meu Coração Parou" (https://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/search?q=De+Tanto+Bater+o+Meu+Cora%C3%A7%C3%A3o+Parou). Quanto ao Matthias Schoenaerts, ficarei atento. Não me recordo nele em mais nenhum papel relevante, embora tenha reparado que entrou no filme do Tom Barman (dos dEUS).
Bom dia,
Por incrível que pareça, só hoje descobri o seu blog, mas vou andar por aqui, tenho a certeza.
Li este livro há muitíssimos anos, e só conheço o filme do John Schlesinger, com a Julie Christie, Alan Bates, Terence Stamp e Peter Finch.
Às vezes (quase sempre) fico desiludida com os remakes.
O Henrique viu as duas versões e, em caso afirmativo, qual a sua preferida?
Como já disse, vou ficar cliente desta loja... esperando não incomodar demasiado, mas há por aqui tantos temas que me interessam.
:) Maria
Não vi a versão de John Schlesinger, mas fui espreitar ao Youtube e fiquei cheio de vontade. Pode ser que entretanto veja.
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