sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

THOMAS HARDY NO CINEMA


Por falar em Thomas Hardy (1840-1928), a Relógio D’Água publicou em 2018 dois romances da sua autoria em Portugal: O Mayor de Casterbridge, que mencionei aqui, e O Pregador Atormentado. Talvez não seja má ideia pegar neles entretanto. Já em 2015, a Presença editou Longe da Multidão. Este foi adaptado ao cinema pelo dinamarquês Thomas Vinterberg (n. 1969), o mesmo de Festen/A Festa (1998). Far From The Madding Crowd/Longe da Multidão (2015) desloca-nos para a Era Vitoriana, numa Inglaterra rural onde o moralismo sexual não se impôs tão veementemente como na cidade dos aristocratas. A história de Thomas Hardy desafia precisamente essa moralidade nos domínios da paixão amorosa, oferecendo a uma personagem feminina o papel principal. Carey Mulligan, que, curiosamente, no mesmo ano deste filme teve um outro desempenho relevante em Suffragette/As Sufragistas (2015), de Sarah Gavron (n. 1970), dá corpo à independente Bathsheba Everdene. Órfã de pai e de mãe, habituou-se a viver sozinha e a desenrascar-se pelos próprios meios. É uma mulher a tentar vingar num mundo de homens. Logo no início, a sequência em que surge montando a cavalo é assaz reveladora da personalidade em causa. A paisagem e os cenários são lindíssimos, a fotografia excelente, mas nem sempre o corpo de actores é convincente. Tom Sturridge, por exemplo, falha redondamente no papel de Sergeant Francis Troy. Não só não tem corpo de militar, como nos gestos mais se assemelha a uma borboleta do que a um oportunista. É um dos três pretendentes a Bathsheba, juntando-se ao fiel pastor de ovelhas Gabriel Oak (Matthias Schoenaerts) e ao riquíssimo, mas solitário, latifundiário William Boldwood (Michael Sheen). Deste será o desempenho mais convincente. Os três quase nunca estão em conflito entre eles, o conflito processar-se-á dentro da cabeça e no interior do coração da livre, autónoma e independente Bathsheba. Dando ares de história de princesas, Far From The Madding Crowd tem o final que se prevê em todos os dramalhões românticos. Não obstante, o argumento em si não me parece ser o mais relevante neste filme. O olhar de Thomas Vinterberg, esse sim, merece ser relevado, por através dele nos serem oferecidos ambientes e paisagens de um naturalismo encantador. A banda sonora é de Craig Armstrong.

4 comentários:

manuel a. domingos disse...

Gostei muito de ver Matthias Schoenaerts no filme "Ferrugem e Osso", que é, quanto a mim, um filme do caraças (não chega a ser "do catano").

hmbf disse...

Esse nunca vi, mas do Audiard anseio pelos "Irmãos Sisters". :-) Gostei muito do "De Tanto Bater o Meu Coração Parou" (https://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/search?q=De+Tanto+Bater+o+Meu+Cora%C3%A7%C3%A3o+Parou). Quanto ao Matthias Schoenaerts, ficarei atento. Não me recordo nele em mais nenhum papel relevante, embora tenha reparado que entrou no filme do Tom Barman (dos dEUS).

Anónimo disse...

Bom dia,
Por incrível que pareça, só hoje descobri o seu blog, mas vou andar por aqui, tenho a certeza.
Li este livro há muitíssimos anos, e só conheço o filme do John Schlesinger, com a Julie Christie, Alan Bates, Terence Stamp e Peter Finch.
Às vezes (quase sempre) fico desiludida com os remakes.
O Henrique viu as duas versões e, em caso afirmativo, qual a sua preferida?
Como já disse, vou ficar cliente desta loja... esperando não incomodar demasiado, mas há por aqui tantos temas que me interessam.
:) Maria

hmbf disse...

Não vi a versão de John Schlesinger, mas fui espreitar ao Youtube e fiquei cheio de vontade. Pode ser que entretanto veja.