sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

HOSTILES (2017)



   Só há dias dei pela existência deste Hostiles/Hostis (2017), de um tal Scott Cooper que se estreou na realização com o prometedor Crazy Heart (2009). Jeff Bridges era um decadente músico de country, papel que lhe valeu o Oscar depois de várias nomeações. Passava por acaso num canal de televisão quando me deixei prender pela presença de Christian Bale. Pouca gente se recordará dele como Jim, o jovem rapaz que Steven Spielberg imortalizou em Empire of the Sun/Império do Sol (1987). É um dos meus actores preferidos. Hostiles, curiosamente, não é a sua estreia no western. Em 2007 já encantara no remake 3:10 to Yuma/O Comboio das 3 e 10 (2007) ao lado de Russell Crowe. Desta feita, entre os rostos mais conhecidos com os quais contracena temos o inconfundível Wes Studi. A ascendência cherokee tem-lhe valido alguns papéis relevantes como índio, sendo exemplo os desempenhados em Dances with Wolves (1990), The Last of the Mohicans (1992), Geronimo: an American Legend (1993), The New World (2005), e até uma aparição fugaz em The Doors (1991).
   Neste Hostiles, Wes Studi dá corpo ao chefe Yellow Hawk. Não consegui apurar até que ponto a história do filme se aproxima dos factos, embora o tom naturalista leve a crer na existência de ligeiras aproximações. Bale é o capitão Joseph J. Blocker, destacado para transportar Yellow Hawk e a família de uma reserva no Novo México às terras de origem no Montana. Blocker passou a vida a combater índios, transformando-se num herói de guerra dentro da estrutura militar. Mas o sentido do dever impõe-se. Depois de alguma resistência, parte em viagem. Pelo caminho, a caravana cruza-se com uma mulher desesperada que acabou de perder toda a família (marido e três filhos menores, entre os quais um bebé) na sequência de um cruel ataque indígena. Resolvem acolhê-la na caravana. Rosamund Pike tem na personagem de Rosalee Quaid um inesquecível momento de inspiração. O mote está dado.
   Esta é uma história de expiação. Há várias formas de olharmos para um filme destes, a pior de todas é procurar julgá-lo pelo que possamos supor ser a sua moral. A verdade é que Scott Cooper teve a capacidade de ser superior a qualquer forma de maniqueísmo oportunista. Interessa-me muito mais, porém, o modo como vai expondo os sucessivos choques emocionais ocorridos dentro de cada uma das personagens. O final do sargento Thomas Metz, companheiro de longa data de Blocker, é um bom exemplo do turbilhão de emoções que persegue estas pessoas. Mais do que entre opositores, a tensão é interior, inerente a cada um deles. E os cenários são excelentes, fazendo com que tudo pareça verosímil e humano, ou seja, frágil e ambíguo. Certa, só mesmo a morte. A morte que Rosalee Quaid diz por vezes invejar, pelo seu carácter definitivo.
   Hostiles é mais uma tentativa de manter vivo um género tão antigo quanto o cinema. Neste século, mesmo excluindo os remakes (3:10 to Yuma, True Grit, em certo sentido The Revenant), já temos alguns exemplos de como o western pode renovar-se sem perder a sua essência. Não é um grande filme como The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (2007), de Andrew Dominik, que pegando num tema clássico conseguiu oferecer-nos poesia numa paisagem agreste. Mas está perfeitamente ao nível de The Homesman (2014), de Tommy Lee Jones, e supera as incursões de Ti West e Michael Winterbottom no género. Sobra Tarantino, mas com esse a conversa é outra.

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