Só há dias dei pela existência deste Hostiles/Hostis
(2017), de um tal Scott Cooper que se estreou na realização com o prometedor
Crazy Heart (2009). Jeff Bridges era um decadente músico de country,
papel que lhe valeu o Oscar depois de várias nomeações. Passava por acaso num
canal de televisão quando me deixei prender pela presença de Christian Bale. Pouca
gente se recordará dele como Jim, o jovem rapaz que Steven Spielberg imortalizou
em Empire of the Sun/Império do Sol (1987). É um dos meus actores preferidos. Hostiles,
curiosamente, não é a sua estreia no western. Em 2007 já encantara no remake
3:10 to Yuma/O Comboio das 3 e 10 (2007) ao lado de Russell Crowe. Desta feita,
entre os rostos mais conhecidos com os quais contracena temos o inconfundível
Wes Studi. A ascendência cherokee tem-lhe valido alguns papéis relevantes como
índio, sendo exemplo os desempenhados em Dances with Wolves (1990), The Last of
the Mohicans (1992), Geronimo: an American Legend (1993), The New World (2005),
e até uma aparição fugaz em The Doors (1991).
Neste Hostiles, Wes Studi dá corpo ao chefe Yellow Hawk.
Não consegui apurar até que ponto a história do filme se aproxima dos factos,
embora o tom naturalista leve a crer na existência de ligeiras aproximações.
Bale é o capitão Joseph J. Blocker, destacado para transportar Yellow Hawk e a
família de uma reserva no Novo México às terras de origem no Montana. Blocker
passou a vida a combater índios, transformando-se num herói de guerra dentro da
estrutura militar. Mas o sentido do dever impõe-se. Depois de alguma
resistência, parte em viagem. Pelo caminho, a caravana cruza-se com uma mulher
desesperada que acabou de perder toda a família (marido e três filhos menores,
entre os quais um bebé) na sequência de um cruel ataque indígena. Resolvem acolhê-la
na caravana. Rosamund Pike tem na personagem de Rosalee Quaid um inesquecível
momento de inspiração. O mote está dado.
Esta é uma história de expiação. Há várias formas de
olharmos para um filme destes, a pior de todas é procurar julgá-lo pelo que
possamos supor ser a sua moral. A verdade é que Scott Cooper
teve a capacidade de ser superior a qualquer forma de maniqueísmo oportunista.
Interessa-me muito mais, porém, o modo como vai expondo os sucessivos choques
emocionais ocorridos dentro de cada uma das personagens. O final do sargento Thomas
Metz, companheiro de longa data de Blocker, é um bom exemplo do turbilhão de emoções
que persegue estas pessoas. Mais do que entre opositores, a tensão é interior,
inerente a cada um deles. E os cenários são excelentes, fazendo com que tudo
pareça verosímil e humano, ou seja, frágil e ambíguo. Certa, só mesmo a morte. A morte que Rosalee Quaid diz por vezes invejar, pelo seu carácter definitivo.
Hostiles é mais uma tentativa de manter vivo um género
tão antigo quanto o cinema. Neste século, mesmo excluindo
os remakes (3:10 to Yuma, True Grit, em certo sentido The Revenant), já temos
alguns exemplos de como o western pode renovar-se sem perder a sua essência.
Não é um grande filme como The Assassination of Jesse James by the Coward
Robert Ford (2007), de Andrew Dominik, que pegando num tema clássico conseguiu
oferecer-nos poesia numa paisagem agreste. Mas está perfeitamente ao nível de
The Homesman (2014), de Tommy Lee Jones, e supera as incursões de Ti
West e Michael Winterbottom no género. Sobra Tarantino, mas com esse a conversa
é outra.
Sem comentários:
Enviar um comentário