Amo os pássaros perdidos
que retornam do além,
confundindo-se com um céu
que jamais poderei recuperar.
Retomam as memórias,
as jovens horas que ofereci,
e do mar chega um fantasma
feito de coisas que amei e perdi.
Foi tudo um sonho, um sonho que perdemos,
como perdemos os pássaros e o mar,
um sonho breve e antigo como o tempo
que os espelhos não podem espelhar.
Depois tentei perder-te em tantas outras
e todas e aqueloutra eram vós;
logrei por fim aceitar quando um adeus é adeus,
devorou-me a solidão e fomos dois.
Regressam os pássaros nocturnos
que voam cegos sobre o mar,
a noite inteira é um espelho
que me devolve a tua saudade.
Sou apenas um pássaro perdido
que retorna do além
confundindo-se com um céu
que jamais poderá recuperar.
Mario Trejo (n. 13 de Janeiro de 1926, Argentina – m. 14
de Maio de 2012, Buenos Aires, Argentina) , versão de HMBF a partir do original
coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en
Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis
García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 229-230. Desconhece-se
o local de nascimento, informação que o poeta fazia questão de desprezar. Foi jornalista,
argumentista, actor, letrista, participando em vários grupos reunidos em torno
de revistas tais como Poesía Buenos Aires (de Edgar Bayley e Raúl Gustavo
Aguirre), Contemporánea, Luz y sombra. Relacionou-se nos anos de 1950 com o
Grupo de Arte Concreto-Invención. A sua poesia surge caracterizada como detentora
de uma ironia que questiona as convenções sociais e políticas, comprometida com
diversas causas sem se tornar panfletária. Pájaros Perdidos foi musicado por
Astor Piazzolla.
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