segunda-feira, 20 de maio de 2019

TRÊS POEMAS DE RAÚL GUSTAVO AGUIRRE




A CAVERNA

Está-se bem na minha caverna.
E lá tudo é possível.
Não há rei mais poderoso
do que este ser solitário.

O único inconveniente,
é certa sensação
de que algo essencial
ocorre noutro lugar.

*

BOAS RELAÇÕES

Os reclusos detestam-se
mas apesar do rancor
tratam-se com educação.

Os reclusos detestam-se
mas contudo, por dignidade,
jamais falam com o guarda.
Os reclusos detestam-se
mas à noite mantêm diálogos
fingindo que falam sozinhos.

*

AQUELE QUE NUNCA APRENDE

Aquele que nunca aprende toca o fogo,
aquele que nunca aprende dá uma mão,
aquele que nunca aprende volta a andar.

Aquele que nunca aprende magoa-se
contra uma parede e contra outra
e depois contra outra e contra outra
e continua a caminhar.


Raúl Gustavo Aguirre, versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010,  pp. 274, 270, 272.

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