gravidade
às vezes os literatos
valorizam demais a literatura
e isso, me parece
é um bocado errado
estou aprendendo a ler mapas de ponta cabeça
e a tirar fotos do coração das bananas
no jornal diziam que os portugueses
haviam descoberto a molécula da saudade
e aqui em São Paulo todos os dias
há graffitis novos
para apontarmos o dedo
os escombros de prédios aqui
parecem pavimentos de montanhas
às vezes tenho medo
que algum objeto estranho
leve teu corpo embora
mas é sempre bom lembrar
que mesmo na chuva
podemos sair de casa
para jogar brisa na cara
e achar pedaços de verdade
nesse fosso de estrelas
Raphael Sassaki (n. 1988), in A destruição do Mundo, Douda Correria, Junho de 2019, s/p.
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