sexta-feira, 15 de novembro de 2019

BALADA DO HOMEM QUE SABE



Passam comboios, aviões, gente que leva no bolso
o seu conhecimento empírico.
O cenário, ainda que preso à terra com um tripé, muda rapidamente:
                vai da certeza à dúvida,
                da dúvida
                à dúvida explícita,
                e torna a começar.

Passam comboios, aviões, cidades que só de olhá-las se aceleram,
e o homem compõe o cachecol, sabe que o frio não se
contradiz, que a chuva não tem duas ideias:
                conhece a rua pela agitação,
                o rumo pelo empurrão da estratégia,
                o alimento pela necessidade.
Sabe que o cenário é o único argumento.

Santiago Sylvester (n. 1942), versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, p. 370.

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