AOS MEUS BÁRBAROS
Se todas as revelações fossem revoluções
seminais, terminais;
e os incêndios cidades novas,
o sol luz e não um tumor enferrujado,
talvez deixássemos de ser
estes doentes quotidianamente acamados
com a sede morta a soro,
a fome a comprimidos.
Repetiríamos levemente o gesto nosso
de nascer cada dia:
desatarmos o olhar para
ler o outro e descobrirmo-nos
a existir, espelho contra espelho,
incompatíveis com o mundo sem mistério.
Inês Dias, in Cerveja & Neve, Averno, Setembro de 2020, p. 42. Nota: neste volume, Inês Dias colige inéditos, dispersos e poemas publicados em livros anteriores. É uma bela porta para quem pretenda entrar nesta poesia.
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