Querido diário, hoje levantei-me cedo para levar a Nala à rua. Estava frio, vento, mas a espaços o sol trespassava o céu densamente nublado garantindo que continuava a olhar por nós. Ocorreu-me que as pessoas querem definições para tudo. O que é o amor? O que é a poesia? Os poetas respondem hermeticamente a estas coisas, fazendo-nos crer que detêm um conhecimento na realidade inacessível. De regresso a casa, bebi chá de menta e fumei um cigarro antes de ir à praça. Enquanto andava na praça, rodeado de cenouras, bróculos e alhos franceses, pensei que não há merda de poeta que não tenha resistido à tentação de nos definir a vida num poema. A vida é. Passo logo à frente. Também comprei frutos secos, e robalo que deixei a marinar para assar no forno ao jantar. Fiz espetadas de frango ao almoço. Abri uma garrafa de vinho e fiquei a pensar, com a televisão sintonizada num documentário sobre o fundo dos oceanos, que a adega de Hermann Göring que vi representada na série Band of Brothers podia ser uma definição de vida. Todo aquele luxo prestes a ser convertido em mijo. Uma pessoa bebe um copo de tinto e pensa nestas coisas. Sempre é melhor do que pensar na poesia. Cole Porter escreveu esta canção durante um cruzeiro no Pacífico. Estreou no musical Jubilee. Jubileu. Pouco depois começou a II Grande Guerra. As bochechas de Dizzy Gillespie sopram na América, um tufão varre a Europa. Ora aí tens, querido diário, uma definição de vida.

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