Bastava o início e o fim, o trombone de Curtis Fuller à conversa com o contrabaixo de George Tucker afagado por um arco pesaroso. Para que precisamos nós do meio? Bastaria nascer, espreitar o céu, cheirar a terra, tocar nas pétalas de uma rosa, provar uma cereja, ouvir um pássaro, adormecer. Para quê o tempo esfraldado entre a primeira e a sétima posição do êmbolo? Ó, que estupidez, contradiz a cadela com meias luas de branco nos olhos. Tem hábitos estranhos, não gosta da rua à noite, foge das pessoas (consequências do confinamento), morde-nos os pés enquanto caminhamos. Estou convencido de que na sua cabeça os dedos dos meus pés são ossos suculentos. Deixo-a lamber-me, fazer-me cócegas, e quando morde as pontas dos dedos eu rio muito e ela fica parada a olhar para mim como quem pergunta: qual é a graça? Estranhos hábitos tem. Enche a boca de ração e corre, depois pára, abre a boca e espalha o granulado pelo chão. Parece rir. Só então dedica tempo a mastigar cada um dos grãos espalhados pelo tapete. Se o princípio e o fim bastassem, perder-se-ia o consolo de a observar. Não, o fim não basta e o princípio é pouco. A virtude está definitivamente na embocadura.
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