quinta-feira, 9 de junho de 2022

NEW-MA (1957)

 


O trompetista Lee Morgan tinha 33 anos quando foi alvejado pela mulher durante uma actuação no Slug’s Saloon. A neve que então cobria Nova Iorque retardou a chegada dos primeiros socorros. Isto foi em 1972. Esvaído em sangue, é provável que já não tenha escutado as sirenes da ambulância. Tivesse esta chegado mais cedo e Lee talvez sobrevivesse aos ciúmes de Helen. Começou a tocar cedo, com apenas 18 anos brilhava ao lado de Dizzy Gillespie. Gravou muito, com os Jazz Messengers, com Cliff Jordan, com os seus próprios quartetos, quintetos, sextetos. Há relações que nascem como minúsculas manchas à superfície da pele, aí se desenvolvendo ao longo dos anos, crescendo, alargando-se e disseminando-se pelo corpo. Às tantas, a mancha deixa de estar apenas à superfície da pele e alapa-se na carne, toma-nos conta da carne e dos músculos e dos ossos até nos sentirmos incapazes de qualquer movimento. Só um tiro poderá salvar-nos da paraplegia, só um tiro poderá desatar-nos a medula entretanto retorcida devolvendo-nos liberdade e paixão. Talvez os ciúmes de Helen tenham sido libertadores, talvez o desaparecimento precoce de Lee tenha sido o último dos improvisos na sua vida. Antes morrer de paixão que ir morrendo desapaixonadamente. 

2 comentários:

sonia disse...

Tilha um disco do Gill /fuller e Dizzy Gillespie que AMAVA! Sumiu da minha casa. Não sei como ainda me lembro do nome. Tenho 75 anos e isso foi há mais de 50 anos...

hmbf disse...

Sumiços desses são frequentes cá por casa. Saúde.