sábado, 6 de março de 2021

BLACK, BROWN & BEIGE (1943)

 


O PCP comemora 100 anos. Saí de casa, para na medida do que é hoje possível içar a bandeira rubra ao som da Internacional. Enquanto o camarada Faria recitava Manuel Gusmão e Neruda lembrei-me de Duke Ellington. Isso mesmo, Ellington. Estranhas associações. Talvez não saibam, mas apesar de ter recebido das mãos de Nixon a Medal of Freedom, o autor de Black and Tan Fantasy tinha uma folha no FBI que o ligava ao Partido Comunista Americano. Durante as décadas de 1930 e 1940 terá apoiado grupos de inclinação comunista tais como o Artist’s Front to Win e o National of American-Soviet Friendship. A histórica apresentação no Carnegie Hall em 1943, onde deu a conhecer o genial tríptico Black, Brown & Beige, sobre a história dos negros na América (tão actual), terá sido em benefício de um desses grupos controlados pelo Partido Comunista. Há quem defenda a tese de que muitas das criações populares norte-americanas daquela época, Ellington incluído, inseriam-se num programa de propaganda soviética que visava influenciar a opinião pública, o que terá degenerado nas purgas levadas a cabo durante o McCarthyism. Pode ser uma desculpa para justificar as perseguições aos comunistas norte-americanos. Certo é que muitos anos depois Duke Ellington visitou a União Soviética, ao que parece na sequência de um esforço feito pela administração de Nixon para acalorar carinhosamente a Guerra Fria. Não sei o que tocou, mas conta-se que foi recebido efusivamente. Gostava de ver as caras da nomenklatura ao som de Rockin’ in Rhythm.

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