domingo, 26 de dezembro de 2021

JOÃO PAULO COTRIM (1965-2021)

 

(fotografia da Margarida Araújo)

Jornalista, escritor e editor, assinou guiões para filmes de animação, novelas gráficas, ensaios e histórias para a infância. Dirigiu a Bedeteca de Lisboa entre 1996 e 2002. Como jornalista, colaborou em vários programas de rádio e de televisão, tendo sido também coordenador editorial da revista LER e editor de ficção e ensaio na revista Ícon. Fundou e dirigiu a editora Abysmo, onde publiquei A Festa dos Caçadores (2018) e, mais recentemente, Micróbios (2021). Conhecemo-nos pessoalmente em 2015, por intermédio de amigos comuns. A empatia foi imediata e resultou em vários projectos, os livros, suplementos inesperados, sessões de leitura, a Torpor, ideias interrompidas, muitas, tudo bem comido e regado. Nem sempre concordámos, por vezes discordámos veementemente, mas havia cumplicidade. A última vez que falámos foi precisamente há um mês, por WhatsApp. Estava internado. Perguntei-lhe se já escarrava, respondeu-me que: «Ainda não, mas vai acontecer!». Ambos sportinguistas, também a bola era tema de conversa, de lamentos e de alegrias parvas. Entre os seus livros contam-se Má Raça (Abysmo, Março de 2012), com ilustrações de Alex Gozblau e posfácio de Adolfo Luxúria Canibal, A Minha Gata (Companhia das Ilhas, Outubro de 2012), Navalha no Olho (Nova Mymosa, Fevereiro de 2020). Mas o seu melhor foi publicado este ano, chama-se Diário das Nuvens (Abysmo, Outubro de 2021) e tem fotografias do João Francisco Vilhena. É um livro belíssimo, atravessado pela recuperação de uma doença que não o levou. Tinha de ser outra a agarrá-lo. Disse-lhe que ia escrever sobre o livro, contra as regras do mercado de virgens viciosas. Ainda não o fiz, mas hei-de fazê-lo. Quando conseguir. Até sempre, camarada.  

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