A colagem que pretendem fazer do PCP a Putin não é apenas estúpida, tem como princípio um preconceito anticomunista que estamos fartos de observar. Basta uma visita ao sítio do PCP e uma pesquisa por Putin para encontrarem de imediato, por exemplo, isto:
O PCFR realizou a sua assembleia magna num contexto de
crescente afirmação enquanto principal partido da oposição ao regime
Putin/Medvedev, o qual apelida de «aliança entre oligarcas e burocratas».
É uma posição, de 2013, do Partido Comunista da Federação
Russa. Porra, de 2013. Percebem? 2013. Não vale a pena a insistência. Uma
mentira não se torna verdadeira por ser várias vezes repetida. Criticam o PCP
dizendo ter sido o único partido que não condenou a invasão da Ucrânia, quando
o PCP não só condenou a invasão da Ucrânia como condenou todo o historial por
detrás da invasão. Era possível pensar a invasão do Iraque, em 2003, sem pensar
o ataque às Torres Gémeas, em 2001? Não. Isto não justifica a invasão do
Iraque, chama-se contextualizar. Para leituras simplificadoras da História têm
o Chega, podem contar com o Chega e os seus programas de 9 linhas. São
altamente eficazes, já se percebeu, neste mundo de twiits e pensamento em
número de caracteres limitados. É não só irritante, como inquietante, constatar
que a preocupação da direita portuguesa neste momento é mais com as posições do
PCP do que com o povo ucraniano e o povo russo que está contra esta invasão do
lunático Putin. Há em tudo isto um desgraçado ambiente de desinformação e de
intoxicação, mas também uma expiação que só a psicanálise explica. Os mesmos
que apoiaram a invasão do Iraque acusam agora o PCP de apoiar a invasão da
Ucrânia, sendo claro que antes foram atrás de uma mentira e agora promovem uma
mentira. Concentrem-se na defesa do povo ucraniano e de todos aqueles que
defendem a paz: «A solução não é a guerra, é a paz e a cooperação.» Uma coisa é
o que o PCP diz, outra é o que a comunicação social diz que o PCP diz, outra é
o que os comentadores dizem que o PCP diz tendo por base o que a comunicação social
diz que o PCP diz. Não sou nem quero ser funcionário do PCP.
(Um post de 2014, quando toda a gente assobiava para o lado: aqui. Entretanto, em 2015, iniciou-se o processo de ilegalização do Partido Comunista Ucraniano, que passou a estar impedido de participar em eleições e de exibir a foice e o martelo, sob pena de prisão.)
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