Qual a definição de bom gosto? O que a pós-modernidade trouxe de interessante ao pensamento foi a subjectivação dos juízos de valor, esvaziando de sentido o absoluto e as suas noções de beleza ou de liberdade. Abandonados os conceitos estéticos antigos e a vontade modernista de os superar com propostas arrojadas, fazendo contra, actuando contra, o pós-moderno veio dizer que o bom gosto é o que um homem quiser. Logo, a hipótese de definição de bom gosto fica fora de questão, torna-se obsoleta e até patética. É tão válido acusar a falta de bom gosto no modo como uma determinada pessoa se veste, porque essa avaliação pressupõe uma noção de bom gosto individual que se tornou indiscutível, como considerar que a pessoa em questão está de acordo com o bom gosto dele. Não há um direito ao bom gosto nem um direito ao mau gosto, já que o gosto deixa de existir, subsume-se na subjectividade da avaliação. Tudo é possível, tudo é válido, tudo é, no limite, admissível. Assim sendo, o bom ou o mau gosto deixa de ser assunto. A beleza deixa de ser assunto. A fealdade não é de todo assunto. Se uma coisa só pode ser ou deixar de ser bela em função do indivíduo, então nada há que determine a beleza ou possa responder à questão inicial: qual a definição de bom gosto? Não existe, pelo que pressupomos que o bom gosto também não existe. Existirão gostos, mas é como se não existissem, ou existirão apenas como forma de validação face ao outro que aprova ou desaprova o nosso gosto. Um mundo assim é o paraíso da Maria Leal, uma mulher ao gosto dela, e do Zézé Camarinha, um homem ao gosto dele. E de quem os quiser apanhar. Ao ouvir Music for the Masses tudo isto fica mais claro. As diversas fases dos Depeche Mode foram de gosto dissemelhante, mas quem o determina? O crítico? O fã? O opositor hostil? O indiferente?
6 comentários:
No final deste mês de Junho haverá um festival nas Caldas da Rainha com malta de gosto... Duvidoso?
De que se trata?
Vi ontem o anúncio numa muito pouco frequente divagação televisiva, no canal 180. Dias 23, 24 e 25 se não me engano. Nem percebi o nome...
Mas pareceu-me bem, para variar aos Rock in Rios e Alives desta vida.
Se não existisse bom gosto popular não existia Zezé nem Maria Leal. A não ser que seja mau gosto. Mas o princípio é o mesmo.
Será o Festival da Codorniz? :-)
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