sexta-feira, 29 de julho de 2022

BUCÓLICA


 

Ah o campo, o silêncio recortado
pela passarada, sinfonias de grilos
e de cigarras, ah a paz das moscas
mordendo o odor dos corpos
despidos à sombra dos pinheiros

Ah a picada do moscardo no braço
nu, o sossego veranil mugido
por manadas em pranchas de surf

Ah o fio dental das jovens raparigas
e seus cus sorrindo como bocas
oralplan, meus olhos abelhudos
sibilando e zinindo e zoando
as corolas dos seios protéticos

Ah a fragrância do bronzeador
misturada com suores e bosta
de gado na brisa de Verão
O carvão vegetal crepitante
dos churrascos, as ementas
impagáveis dos restaurantes
e, claro, ah os conceitos

Ah o selvagem chique das tias
e dos sobrinhos, a criança tratada
por você como fruto silvestre
em estufa panorâmica, ah a selfie
de costas para o mar e ovações
ao nadador salvador e ao pôr-do-sol

Ah a velha que palita os dentes
com finos raios solares, a demora
no serviço de esplanada, o velho
que reclama por não estar curto
o café sem princípio em pires
escaldado, as bichas estacionadas
à entrada do W.C., ah as pessoas
e a mania de sacudir toalhas
a cada minuto que passa

Ah aqueles que entram a medo
no mar e dão pulinhos quando
uma onda vem, e voltam as costas
para não molhar o peito, e se
encolhem não vá o salgado da água
prejudicar a tensão arterial

Ah o campo, a praia, as férias
Ah o mar, a areia e as melgas

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