terça-feira, 9 de agosto de 2022

DIA INTERNACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS

 
«Vocês querem lá saber dos índios. 'Tão-se mas é a cagar. Os índios podem morrer à fome, comidos por vermes de pestilências brancas, podem extinguir-se como rinocerontes, que vocês estão-se nas tintas. Mandam embalsamar um para o museu etnográfico, metem dois em exposição no zoológico, arranjam umas reservas para conservar meia dúzia antes de irem parar a frascos de formol e pronto, 'tá-se bem. Podemos continuar a dar cabo da floresta porque precisamos da madeira para estantes novas e das terras para engordar gado que, queira Deus Nosso Senhor, nos há-de engordar a nós. Índios? Tivessem estudado engenharia informática. O que vale um índio comparado com as necessidades do povo civilizado? O carro, o conforto dos estofos, o telemóvel, as baterias, e haver o que desperdiçar. Claro, que um homem não se consola em alimentar-se. Precisa de enfardar. E de fazer lixo. E de enviar o lixo para longe, onde não seja visto nem cheirado, para a terra dos índios. Não, esses já nem terra têm. O lixo vai mesmo para a Índia, onde porcos com aspecto de crianças vasculham o desperdício das nossas cidades. Vocês querem lá saber dos índios. Desde que não vos tirem aquilo a que têm direito, frutos do progresso dos homens e da evolução das espécies, tipo, sei lá, palhinhas de papel, tudo bem. Que não vos enfadem com os índios. Valores maiores se levantam. Vêm de uber, num jaguar. Que é palavra índia, do guarani jaguá.»

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