A primeira vez que ouvi falar de Jon Fosse foi em 2018,
quando o Teatro da Rainha levou à cena “O filho”. A fotografia foi registada em
casa do Daniel e mostra o cartaz da peça devidamente emoldurado para memória
futura. Só posteriormente adquiri alguns livros do escritor norueguês publicados
pela Cotovia. “É a Aless” (2008), por exemplo, e “Lilás” (2006), na colecção
Livrinhos de Teatro. Esta última mexe comigo, remete-me para as paixões
falhadas da adolescência, experiências amorosas frustrantes como tiros ao lado.
Amores de Verão, mete-os no caixão. Podia ser provérbio, lacunar e
preconceituoso como quase todos os ditos populares. Para ser honesto, o tema
mais tramado de “Lilás” nem é o desacerto amoroso, mas antes a única frustração
verdadeiramente difícil de engolir que guardo na vida. Há dias partilhei-a com
um amigo, pelo que não me importo de torná-la pública. Sempre sonhei ser músico,
ter uma banda, andar em digressão, reunir-me amiúde para ensaiar e desentender-me
como os putos da peça de Jon Fosse. O texto parece desguarnecido, superficial,
vazio, mas toca fundo, com admirável simplicidade, nessas frustrações que
estigmatizam a adolescência e nos acompanham para o resto da vida. Pior do que
me haver faltado tacto para o amor, coisa que uma pessoa está sempre a tempo de
resolver, faltou-me ouvido. E isso não se resolve. Um tipo ou tem ou não tem
ouvido. Não há cá estudo nem ensaio que lhe valha. Até pode tornar-se um
instrumentista virtuoso, mas em não havendo ouvido é uma vergonha. Pegar numa
guitarra e não conseguir afiná-la de ouvido, ora aí têm a maior frustração da
minha vida. Diz o Rapaz à Rapariga: «Só toco um bocadinho / pouca coisa / nunca
vou ser bom / mesmo bom nunca». Haverá consciência mais difícil de suportar do
que esta?
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